“A Palavra é um dom. O outro é um dom”

Mensagem do Santo Padre Francisco para a Quaresma 2017

 

Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.

1. O outro é um dom

A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado.

A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anónima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico.

2. O pecado cega-nos

A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. De facto, a púrpura era muito apreciada, mais do que a prata e o ouro, e por isso se reservava para os deuses (cf. Jr 10, 9) e os reis (cf. Jz 8, 26). O linho fino era um linho especial que ajudava a conferir à posição da pessoa um caráter quase sagrado. Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v. 19). Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf. Homilia na Santa Missa, 20 de setembro de 2013).

O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 55). Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz.

Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efémera da existência (cf. ibid., 62).

O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.

Olhando para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24).

3. A Palavra é um dom

O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima. A liturgia de Quarta-Feira de Cinzas convida-nos a viver uma experiência semelhante à que faz de forma tão dramática o rico. Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar». De facto, tanto o rico como o pobre morrem, e a parte principal da parábola desenrola-se no Além. Dum momento para o outro, os dois personagens descobrem que nós «nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele» (1 Tm 6, 7).

Também o nosso olhar se abre para o Além, onde o rico tece um longo diálogo com Abraão, a quem trata por «pai» (Lc 16, 24.27), dando mostras de fazer parte do povo de Deus. Este detalhe torna ainda mais contraditória a sua vida, porque até agora nada se disse da sua relação com Deus. Com efeito, na sua vida, não havia lugar para Deus, sendo ele mesmo o seu único deus.

Só no meio dos tormentos do Além é que o rico reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco de água. Os gestos solicitados a Lázaro são semelhantes aos que o rico poderia ter feito, mas nunca fez. Abraão, porém, explica-lhe: «Recebeste os teus bens na vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado» (v. 25). No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males da vida são contrabalançados pelo bem.

Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem para todos os cristãos. De facto o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta: «Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31).

Deste modo se patenteia o verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.

Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família humana. Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.

Vaticano, 18 de outubro de 2016.

Festa do Evangelista São Lucas

FRANCISCO

«Caminhamos com Maria ao encontro de Cristo»

Retiro Espiritual do Movimento de Romeiros de São Miguel

Ribeira Grande, 29 de Janeiro de 2017

         Um romeiro é um caminhante que animado pela fé pretende alcançar algo. Neste ano do centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima é muito oportuno colocarmo-nos a questão das razões da fé que nos levam a caminhar e a aprofundar os objectivos da nossa romaria.

Acresce ainda que a romaria está toda ela impregnada de oração e sacrifício, abandono e simplicidade. Mas a oração é de caracter mariano.

Por isso é muito importante este tema «caminhamos com Maria ao encontro de Cristo.

Vamos dividir a nossa reflexão em quatro pontos: da crença à fé cristã; a verdadeira fé cristã; o exemplo de Maria mulher de fé e o indiferentismo de hoje perante a fé cristã.

 

  1. Da crença à fé cristã

É hábito dizer-se que o ser humano é por natureza religioso. Isto quer dizer que cada pessoa, por si mesma, tende a buscar algo ou alguém que lhe ofereça as razões da sua existência que por si mesma não as consegue alcançar.

Neste sentido, ao longo dos séculos, os povos foram elaborando modelos religiosos que se inseriram em cada cultura. A isto nós chamamos religião natural ou religiões pagãs. Estas nascem a partir do ser humano, da sua natureza ou da sua inteligência.

Algo de diferente acontece com as chamadas religiões reveladas como sejam o judaísmo em primeiro lugar e a partir dele o cristianismo o islamismo. Aqui, embora distintas entre elas, têm de comum a Deus que é transcendente, que se revela através de profetas e no caso do cristianismo, reconhece-se que fala através do Seu Filho. É um Deus que dialoga, que interpela e que exige uma resposta do ser humano por Ele criado. Há uma promessa e há um percurso para que essa promessa se realize.

No caso particular do cristianismo, que nos interessa a nós que nos denominamos cristãos, reconhecemos que Jesus de Nazaré é o filho de Deus que nos revela quem é Deus e n’Ele está a salvação de cada pessoa e de toda a humanidade.

Sintetizando, podemos afirmar que a crença é de ordem natural e parte da iniciativa da pessoa humana, pelo contrário, a religião revelada parte da iniciativa de Deus que quer dialogar com as Suas criaturas e se dá a conhecer. No cristianismo temos a particularidade de reconhecer que Deus incarnou no Seu Filho Jesus Cristo e n’Ele contemplamos a Deus como Ele é.

  1. A verdadeira fé cristã

A verdadeira fé cristã manifesta-se na pessoa que aceita a Jesus de Nazaré como o Filho de Deus e aceita viver em comunhão com Ele. Jesus revela-se e pede que seja reconhecido tal como ele próprio se manifesta. Sobretudo a marca da Sua ressurreição exige daquele que escuta este anuncio e que inicia a caminhada de encontro com Ele uma expressão de fé.

Vejamos um exemplo de um texto evangélico onde isto é muito nítido: «Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.»

Tomé, um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. Diziam-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor!» Mas ele respondeu-lhes: «Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.»

Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: «A paz seja convosco!» Depois, disse a Tomé: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» Tomé respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!» (Jo. 20, 19 – 29).

A fé brota de um encontro no qual Jesus Cristo chama e cada um é convidado a responder. Manifesta-se na alegria e no desejo de seguir a Jesus Cristo.

Vejamos o exemplo de S. Paulo onde é muito explicito este encontro e o chamamento de Jesus: «Ouvistes falar do meu procedimento outrora no judaísmo: com que excesso perseguia a Igreja de Deus e procurava devastá-la; e no judaísmo ultrapassava a muitos dos compatriotas da minha idade, tão zeloso eu era das tradições dos meus pais.

Mas, quando aprouve a Deus – que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça – revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios, não fui logo consultar criatura humana alguma» (Gal. 1, 13 – 16).

Esta comunhão de vida com Jesus Cristo leva a comportamentos, critérios e valores novos por parte dos seus discípulos. Há uma imitação da vida de Cristo.

No final da Ceia Pascal, após Jesus ter lavado os pés aos seus apóstolos, com toda a riqueza simbólica que este gesto traduz, afirma: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também» (Jo. 13, 13-15).

Esta vida nova da qual participamos pelo Baptismo e demais sacramentos leva-nos a estar no mundo mas com critérios que já não se confundem com o mundo. Diz S. Paulo: «já que fostes ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Aspirai às coisas do alto e não às coisas da terra.

Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, a vossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória.

Crucificai os vossos membros no que toca à prática de coisas da terra: fornicação, impureza, paixão, mau desejo e a ganância, que é uma idolatria. Estas coisas provocam a ira de Deus sobre os que lhe resistem (Col. 3,1-6).

E mais à frente acrescenta que «Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também. E, acima de tudo isto, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição. Reine nos vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados num só corpo. E sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós com toda a sua riqueza: ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria; cantai a Deus, nos vossos corações, o vosso reconhecimento, com salmos, hinos e cânticos inspirados.

E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças por Ele a Deus Pai» (Col. 3, 12-17).

Mas a fé em Jesus Cristo que brota deste encontro com Ele e se manifesta na comunhão de vida com Ele exige a integração numa comunidade que escuta a Palavra, que celebra os mistérios da vida de Cristo e que partilha os dons dos seus membros.

É muita elucidativa a passagem dos Actos dos Apóstolos que diz: «Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.

Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação» (Act. 2, 42 – 47).

A fé cristã exige um itinerário que começa pelo anuncio da Palavra de Deus que revela a Deus, Pai, Filho e Espirito Santo, que se torna presente no meio de nós pelo Filho que nos interpela e convidas à conversão e uma vez em comunhão com Ele a viver em comunidade, alimentados pela Eucaristia e os outros sacramentos e impelidos para a missão de transformar o mundo pelo Evangelho.

Certamente reconhecemos que a fé cristã é algo muito distinto de uma simples crença.

Podemos ler na Enciclica «a Luz da Fé» que «para nos permitir conhecê-Lo, acolhê-Lo e segui-Lo, o Filho de Deus assumiu a nossa carne; e, assim, a sua visão do Pai deu-se também de forma humana, através de um caminho e um percurso no tempo. A fé cristã é fé na encarnação do Verbo e na sua ressurreição na carne; é fé num Deus que Se fez tão próximo que entrou na nossa história. A fé no Filho de Deus feito homem em Jesus de Nazaré não nos separa da realidade; antes permite-nos individuar o seu significado mais profundo, descobrir quanto Deus ama este mundo e o orienta sem cessar para Si; e isto leva o cristão a comprometer-se, a viver de modo ainda mais intenso o seu caminho sobre a terra» (nº 18).

  1. O exemplo de Maria mulher de fé

Tomemos, agora, o exemplo de Maria de Nazaré, como modelo de fé. Nela descobrimos as exigências que se colocam a quem deseje caminhar na fé cristã.

Comecemos pelas palavras de Santa Isabel que distingue Nossa Senhora dizendo «Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor» (Lc. 1, 45).

Maria de Nazaré vivia integrada no seu povo, respirava a sua cultura, praticava a sua religião, tinha os seus projectos de vida pessoal e certamente suplicava a Deus que enviasse o Messias prometido.

Contudo, a partir de uma determinada altura da sua vida tudo se torna diferente. Tudo é surpreendente. Uma novidade nunca pensada acaba por tocar a sua existência e mudar os seus planos.

Segundo os relatos evangélicos, Maria de Nazaré é visitada, saudada e interpelada por um Mensageiro Celeste que lhe revela o plano de Deus para com a Humanidade e pede-lhe a sua entrega total a esta causa.

Vejamos o texto evangélico e retiremos alguns elementos que nos ajudam a reconhecê-la como mulher de fé: «Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.

Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»

Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela» (Lc.1, 26 – 38).

Realça-se muito bem a sua incompreensão, a sua incapacidade, a iniciativa divina e a resposta generosa ao apelo de Deus «faça-se em mim segundo a tua palavra». Deixou de ter os seus planos para aceitar seguir os planos de Deus. Tudo se transformou na sua vida e na fé acredita que tudo se transformará à sua volta tal como reza no cântico do Magnificat.

A terminar a Enciclica «A Luz da Fé» pode ler-se o seguinte: «em Maria, Filha de Sião, tem cumprimento a longa história de fé do Antigo Testamento, com a narração de tantas mulheres fiéis a começar por Sara; mulheres que eram, juntamente com os Patriarcas, o lugar onde a promessa de Deus se cumpria e a vida nova desabrochava. Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus dirigiu-se a Maria, e Ela acolheu-a com todo o seu ser, no seu coração, para que n’Ela tomasse carne e nascesse como luz para os homens. O mártir São Justino, na obra Diálogo com Trifão, tem uma expressão significativa ao dizer que Maria, quando aceitou a mensagem do Anjo, concebeu « fé e alegria ». De facto, na Mãe de Jesus, a fé mostrou-se cheia de fruto e, quando a nossa vida espiritual dá fruto, enchemo-nos de alegria, que é o sinal mais claro da grandeza da fé. Na sua vida, Maria realizou a peregrinação da fé seguindo o seu Filho. Assim, em Maria, o caminho de fé do Antigo Testamento foi assumido no seguimento de Jesus e deixa-se transformar por Ele, entrando no olhar próprio do Filho de Deus encarnado» (nº 58).

Para o cristão, Maria de Nazaré não fica apenas naquela a quem recorremos nas nossas necessidades, Ela caminha connosco na Igreja, ensinando-nos a ser discipulos do Seu Filho e manifesta a sua ternura materna educando-nos para a verdadeira fé no encontro, na comunhão, ajudando-nos na conversão e a responder generosamente aos apelos de Jesus Cristo.

  1. O indiferentismo perante a fé cristã

A fé cristã, na verdade do que ela é, sempre foi ameaçada e sempre se revestiu de alguma dificuldade de ser vivida na sua integralidade. Mesmo os grandes santos dão-nos conta desta sua debilidade pessoal em relação a uma verdadeira vida de fé cristã.

Contudo, nos últimos séculos, ela foi negada por um racionalismo arrogante e desarticulado provocando no ser humano uma cisão para uma autêntica compreensão do homem. Esta verificação levou o Concilio a afirmar que «a razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador» (GS. 19). Porém, continua o Concilio, «muitos dos nossos contemporâneos não atendem a esta íntima e vital ligação a Deus, ou até a rejeitam explicitamente; de tal maneira que o ateísmo deve ser considerado entre os factos mais graves do tempo actual e submetido a atento exame» (GS 19).

Mas o mesmo Concilio culmina sublinhando que «na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente» (GS. 22).

Contudo, nos últimos tempos o ateísmo, sem deixar de existir, deu lugar ao indiferentismo. Isto é, já não se coloca a necessidade de reflectir sobre a existência de Deus, e por isso o homem sente-se indiferente sobre a realidade religiosa mesmo a cristã.

Poderiamos ainda acrescentar outras formas de religiosidade que estão na sociedade de hoje e que genericamente se apelidam de New Age.

         Conclusão

A terminar esta nossa reflexão diria que o cristão não nasce cristão. Para chegar a ser cristão exige-se um itinerário que começa pela proclamação da Palavra de Deus e a correspondente formação cristã que colocará a pessoa perante a necessidade de responder a Jesus Cristo com a sua vida e, por isso, exige-se conversão.

Através da conversão a Graça de Deus é oferecida através dos sacramentos vividos na comunidade cristã para que se faça uma experiência comunitária, alimentada pela eucaristia, de partilha de dons e carismas e, todo o cristão reconhece que o encontro e a comunhão de vida com Cristo exige o compromisso de viver critérios, comportamentos e valores novos que se manifestam na resposta a Jesus Cristo para a Missão.

Somos discípulos missionários.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores

 

 

 

 

 

PLANO PASTORAL 2015.16

    OUTUBRO

04 Início do Ano Pastoral

06 Reunião da Equipa da Cultura

13 Reunião do Grupo Coordenador

18 Encontro de Responsáveis (14h30/17h30 -Escola Secundaria Lagoa)  

19 Reunião da Equipa da Comunicação

     NOVEMBRO

09 Reunião do Grupo Coordenador

28 Caminhada Formativa (28 a 30)

     DEZEMBRO

08 Início do Ano Jubilar da Misericórdia

14 Reunião do Grupo Coordenador

     JANEIRO

11 Reunião do Grupo Coordenador

17 Retiro Espiritual (09h00/17h30 Escola Secundaria da Ribeira Grande)

25 Reunião do Grupo Coordenador

     FEVEREIRO

02 Encerramento do Ano da Vida Consagrada

10 Cinzas

13 Inicio das Romarias Quaresmais

     MARÇO

24 Termo das Romarias Quaresmais

     ABRIL

04 Reunião do Grupo Coordenador

10 Dia do Romeiro

11 Reunião da Equipa da Comunicação

22 Caminhada Formativa (22 a 24)

30 Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres – Eucaristia

    MAIO

01 Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres – Procissão

09 Reunião do Grupo Coordenador

30 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Nordeste)

31 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Povoação)

     JUNHO

06 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Fenais da Ajuda)

07 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Ribeira Grande)

14 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Vila Franca)

15 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Lagoa)

20 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Capelas)

21 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Ponta Delgada)

22 Reunião com os Mestres, Contra Mestre e Colaboradores (Ouvidoria Ponta Delgada)

27 Reunião do Grupo Coordenador

30 Encerramento do Ano Pastoral

 

 PDF(MRSM) PLANO PASTORAL 2015.16