“A Romaria de São Miguel é muito mais que uma experiência. É um estilo de vida e de fé”

As romarias quaresmais na ilha de São Miguel caminham para o seu final. Quando a romaria termina muitas são as histórias que se contam e outras tantas que ficam por contar.

Uma que não poderia ficar por contar é a história de Mikael Thörn, um estudante de 27 anos, que veio da Suécia para participar na Romaria. O diácono Gaspar Pimentel. Aluno do Seminário Episcoapl de Angra,  esteve como ele ao longo da sua semana de caminhada com o rancho de Santa Barbara da ouvidoria de Capelas, e não quis que a sua passagem por estas terras ficasse esquecida.

Gaspar Pimentel (GP):Como é que um sueco teve conhecimento das romarias em São Miguel e decidiu vir fazer uma?

Mikael Thörn (MT): Às vezes, eventos imprevisíveis acontecem na nossa vida e precisamos de tempo para nós mesmos. O verão passado foi exemplo disso para mim. Por isso peguei numa mochila e dirigi-me sozinho para a Noruega para uma caminhada organizada nas montanhas. Neste caminho, conheci Joaquim Figueiredo, um escritor Português que faz diferentes peregrinações em todo mundo e que escreve livros sobre as experiências das suas viagens e caminhadas. Falou-me das romarias em São Miguel e perguntou se eu gostaria de participar. Seis meses mais tarde, aterrei em S. Miguel.

 

GP: No contacto com o Joaquim teve conhecimento que a romaria não é fácil. Contudo seis meses depois veio, porquê?

MT: Compreendi desde o início que a romaria em S. Miguel não seria fácil, mas a própria vida, por vezes, também não é fácil. Para dar um sentido a isto, senti esta indicação como um sinal e esta peregrinação apareceu como uma coisa que eu tinha que fazer!

GP: Foi uma espécie de chamamento e decidiu participar. O que é que fez como preparação para a semana de caminhada?

MT: Eu ouvi do Joaquim que esta romaria não era uma peregrinação fácil como já disse, mas também não sabia bem o que esperar. Por isso comecei a correr durante os seis meses antes da Romaria, para obter a força física Learn More. Isto tudo no meio do inverno sueco com temperaturas abaixo de 0 ° C, tempestades de neve… (ri-se)

GP: Um treino digno de filme. Então seis meses depois do início do treino chega pela primeira vez a Portugal, aterrando nos Açores . Presumo que fosse a primeira vez. Quais foram as primeiras impressões da ilha?

MT: Cheguei a Ponta Delgada cheio de expectativas e a beleza da ilha de S. Miguel impressionou-me. Eu não esperava que as montanhas seriam tão majestosas erguendo-se pelo Oceano Atlântico, nem que a vegetação que cobre o interior da ilha fosse muito semelhante à de  uma floresta tropical.

GP: E o rancho de Santa Barbara? O que tem a dizer  acerca das crianças, jovens e não tento jovens que partilharam o mesmo caminho?

MT: Eu gostaria de dizer muito sobre eles todos mas o que eu gostaria de dizer sobre todos os romeiros do rancho Santa Bárbara é que, após os 8 dias juntos, eu tenho 40 novos membros da minha família. Eu penso muito sobre os meus novos irmãos agora quando eu estou de volta na Suécia!

GP: Não sabendo português como é que foi a experiência de rezar e até cantar numa língua completamente nova i?

MT: Foi uma experiência completamente nova tentar aprender uma nova língua em apenas alguns dias. Não foi fácil, mas escutei muito atentamente e tentei compreender cada palavra que foi falada ou cantada. Aprendi Avé Maria em Português e consegui comunicar, embora criando por vezes muitas risadas e lembranças para a vida!

GP: Agora que fez a a romaria, fez também um avaliação da semana. O que mais o marcou?

MT: Há tantos momentos da Romaria que me tocaram! Por exemplo, o encontro com o Senhor Santo Cristo dos Milagres, com todas as famílias fantásticas que me recolheram, onde dormi e comi nas suas casas. Um dos momentos que mais me tocou foi o amor de um pai para com o seu filho e o esforço do seu filho. O filho, com a minha idade, teve um problema no final da Romaria com um joelho. Por cada passo que ele dava, podia ver-se a dor que ele sentia, mas ele estava determinado a não desistir e a não reclamar. O pai estava sentado, à espera que ele descesse uma colina. E quando ele chegou, não trocaram uma palavra sequer. Ambos sabiam que só o filho sozinho é que podia fazer o caminho por si mesmo. Uma lágrima caiu e atingiu o chão debaixo dos pés do pai.

GP: Até eu estou tocado com esta história. Chegamos à oitava e ultima pergunta, oito por cada dia de romaria. Agora tem uma história para contar. É uma experiencia a repetir?

MT: A Romaria de S. Miguel é mais do que uma experiência; é um estilo de vida, de amor e fé! Ela põe as pessoas de toda a ilha mais próximas umas das outras. Não importa o que tens,  se somos ricos ou pobres, se é um agricultor ou um banqueiro, ou quão grande ou pequena é a família que temos, porque na Romaria todos somos uma família e todos somos iguais. Se tiver tempo no futuro, eu gostaria de experimentar a Romaria de novo!

In: IgrejaAçores

Mensagem Pascal

O MISTÉRIO PASCAL: MÁXIMA REVELAÇÃO DA MISERICÓRDIA

Depois da caminhada quaresmal, chegamos à Semana Santa e à Páscoa, celebração da Paixão-Morte e Ressurreição de Jesus. Efetivamente, é no Mistério Pascal de Cristo que se dá a máxima expressão da misericórdia divina.

Como muito bem explica S. João Paulo II, «Cristo Pascal é a encarnação definitiva da misericórdia (…).  O Mistério Pascal é Cristo na cúpula da revelação do imperscrutável Mistério de Deus. É precisamente então que se verificam plenamente as palavras pronunciadas no Cenáculo: “Quem Me vê, vê o Pai”» (Jo 14, 9).

«De fato, Cristo, a quem o Pai “não poupou” (Rm 8, 32) em favor do homem e que na Sua Paixão, assim como no suplício da Cruz, não encontrou misericórdia humana, na Ressurreição revelou a plenitude daquele amor que o Pai nutre para com Ele e n’Ele para com todos os homens (…). O amor, contendo a justiça, dá origem à misericórdia, a qual, por sua vez, revela a perfeição da justiça» (Encíclica Dives in Misericordia, 1980, nº 8).

Assim, quando falamos de misericórdia não estamos a relativizar a justiça.  «A Bíblia supera o clamor pela justiça com o apelo à misericórdia. Ela entende a misericórdia como a própria justiça de Deus. Enquanto superação da justiça e não como relativização da mesma, a misericórdia constitui o núcleo da mensagem bíblica. O Antigo Testamento apresenta Deus como um Deus clemente e misericordioso (cf Ex 34, 6; Sl 86, 15; etc.) e o Novo Testamento chama a Deus “o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação» (“ Cor 1, 3; cf Ef 2, 4)» (Card. Walter Kasper, A Misericórdia, Condição Fundamental do Evangelho e Chave da Vida Cristã, Lucerna, 2014, p. 30).

Jesus revela o Deus-Amor, que é todo misericórdia e só misericórdia: em toda a Sua vida, em que passou fazendo o bem (cf Actos) e, sobretudo, com a entrega total na Cruz, que culmina na Ressurreição, que é a vitória da vida.

«O Seu caminho é também o nosso caminho» (Regra de Vida SCJ). Por mais paradoxal que possa parecer, é pela Cruz que se atinge a vida em plenitude. Não a cruz pela cruz, mas a Cruz, assumida e vivida com Cristo e como Cristo, como caminho que leva ao triunfo final. Com Ele e n’Ele também nós venceremos a morte e tudo o que oprime o ser humano.

Por isso mesmo, o Mistério Pascal de Cristo traz a esperança certa de um mundo melhor e diferente, que nos compromete a dar o nosso contributo pelo progresso da civilização humana.

Jesus, com o Mistério Pascal, veio tornar possível o Reino de Deus: Reino de Justiça, Amor e Paz. «Como já afirmava O Papa Paulo VI e foi repetido tanto por João Paulo II, como por Bento XVI, é necessário construir, para além de uma cultura da justiça, uma «civilização do amor». É, desta forma, que a Igreja e os grupos eclesiais podem, de alguma forma, contribuir para a humanização da sociedade e do sistema social (…).

«A vida humana e uma sociedade verdadeiramente humanitária não são possíveis sem amizade, comunidade, solidariedade e, justamente, misericórdia… O amor e a misericórdia têm o seu lugar, antes de mais, nas relações humanas de proximidade. Mas também são uma condição fundamental e indispensável para a convivência no seio de um povo, assim como entre os povos» (Card. Walter Kasper, Ibid., p. 237-238).

Nesse sentido, são claras as palavras do Papa emérito, Bento XVI: «O amor – caritas – será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do amor prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem. Sempre haverá sofrimento, que necessita de consolação e ajuda. Haverá sempre solidão. Existirão sempre também situações de necessidade material, para as quais é indispensável uma ajuda, na linha de um amor concreto ao próximo» (Bento XVI, Deus Caritas Est, 2005, 28b).

«O amor, contendo a justiça, dá origem à misericórdia, a qual, por sua vez, revela a perfeição da justiça» (DM 8). Eis o que realiza e continua a realizar o Mistério Pascal de Cristo. A Ressurreição de Jesus é um novo tipo de presença no meio de nós: uma presença “espiritual”, que se realiza, precisamente, pelo Espírito Santo, que Jesus prometeu enviar e envia, para estar sempre connosco até ao fim dos tempos, para que a Igreja possa cumprir o mandato missionário de anunciar e testemunhar o Evangelho em todo o mundo, qual fermento que leveda a massa.

Não será a lógica do marxismo ou do capitalismo liberal que vai levar a uma sociedade mais humana, justa e fraterna. O mundo será diferente só na medida em que enveredar pelo caminho do amor, que tem a sua máxima expressão na misericórdia, isto é, na capacidade de ter “compaixão”: ser capaz de “padecer-com”, de se colocar no lugar do outro e de assumir a sua situação. Com Cristo e como Cristo. N’Ele já vencemos todo o mal e a morte.

Por isso, é Páscoa: triunfo da misericórdia. Votos de Boa Páscoa a todos, nomeadamente, para quem mais sente o peso da cruz da vida. Sinto-me em comunhão com todos/as. A operação correu bem e vou recuperando lentamente. Dando graças a Deus, quero também exprimir o meu reconhecimento a todos aqueles/as, que me acompanharam com a sua oração e amizade, com as suas mensagens e votos. Na impossibilidade de me dirigir a cada um/a em particular, aproveito esta oportunidade para agradecer a todos/as. Bem haja!

Força, coragem e esperança! O Senhor Jesus ressuscitou por nós e para nós. Aleluia!

 

+ António, Bispo de Angra

Alfragide, 25 de Março de 2015,

Solenidade da Anunciação do Senhor.

Igreja Católica vive Semana Santa evocando «mistério de Cristo»

A Igreja Católica inicia hoje, com o Domingo de Ramos, a celebração da Semana Santa, os momentos centrais do ano litúrgico que, em muitas cidades, levam à evocação dos momentos da Paixão de Jesus.

“Desejo-vos uma santa semana, na contemplação do mistério de Jesus Cristo”, disse Francisco, no final da celebração que decorreu esta manhã na Praça de São Pedro, no Vaticano.

A celebração dos últimos dias da vida de Cristo começou pela evocação da sua entrada messiânica em Jerusalém e a bênção dos ramos.

O Papa rezou para que os cristãos vivam esta semana “com fé”, na atitude da Virgem Maria, para “seguir o Senhor, mesmo quando o seu caminho leva à cruz”.

Os momentos centrais da Semana Santa começam na quinta-feira, dia em que se celebram a Missa Crismal e a Missa da Ceia do Senhor.

Antigamente, na manhã deste dia celebrava-se o rito da reconciliação dos penitentes, a quem tinha sido imposto o cilício em Quarta-feira de Cinzas.

A manhã foi preenchida pela Missa Crismal, que reúne em torno do bispo o clero da Diocese, na qual são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o santo óleo do crisma.

Com a Missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor: é comemorada a instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e o mandamento do Amor (o gesto do lava-pés).

No final da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares.

Na Sexta-feira Santa não se celebra a missa, tendo lugar a celebração da morte do Senhor, com a adoração da cruz; o silêncio, o jejum e a oração marcam este dia.

O Sábado Santo é dia alitúrgico: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor e a única celebração primitiva parece ter sido o jejum.

A Vigília Pascal é a “mãe de todas as celebrações” da Igreja, evocando a Ressurreição de Cristo.

Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Batismo, por fim, a liturgia Eucarística.

CR/Ecclesia/IgrejaAçores

200 crianças do Colégio de São Francisco Xavier participam em romaria quaresmal

Cerca de 200 alunos do Colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada, participaram esta manhã na 14ª romaria quaresmal, percorrendo as ruas de Ponta Delgada entre o Colégio e  a Igreja de São José, parando em três igrejas de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Carmo e Senhor Santo Cristo dos Milagres.

Os romeiros por um dia,  frequentam as salas dos cinco anos e dos segundo e quarto anos do primeiro ciclo.

Os alunos saíram do Colégio pelas 9h30, acompanhados de cinco Romeiros do Rancho  de São Roque, trajando a indumentária própria do romeiro: o lenço, o xaile, o bordão, a saca e o terço. Atrás seguiam as meninas que levavam um lanche para oferecer aos “irmãos romeiros”`a chegada a São José e depois da celebração da palavra, com o Pe Norberto Brum.

“Com esta iniciativa pretendemos perpetuar a tradição das romarias quaresmais de São Miguel que são um legado espiritual e cultural desta terra”, sublinha a diretora do Colégio, Irmã Domingas Lisboa, acentuando “os valores, virtudes e vivências que importa preservar, no essencial, nas suas características originais, pois constituem um legado inestimável de Fé e Esperança dos nossos antepassados”.

A romaria é o culminar de semanas de preparação, onde toda a comunidade educativa e, principalmente, os alunos que sairam na romaria, se prepararam espiritualmente. No entanto, a “romaria é apenas uma pequena caminhada que não se esgota num dia nem no percurso”, refere a responsável ressalvando as “catequeses” e orientações transmitidas ao longo da preparação quer pelas educadoras, professoras e Irmãs, quer pelo Pe Norberto Brum, que “alertou os alunos para a importância de cada um ser romeiro durante todo o ano e não somente durante esta época quaresmal”, lembrando que “o verdadeiro romeiro, todos os dias, tenta ser bom, reza e trata o outro como um “irmão.”

A resta manhã animou os cânticos dentro da Igreja de São José,  lembra, ainda, o facto de liturgicamente se estar a viver a Quaresma- “tempo de conversão, penitência e meditação” que convidam “à renuncia, à doação e à oração”.

“No Colégio procuramos que as crianças se formem tendo em conta os valores cristãos e por isso não poderíamos descurar esta parte espiritual que contribui para a formação integral dos nossos jovens”, conclui .

Igreja Açores