A festa religiosa do Santo Cristo, que decorre na próxima semana entre 8 e 14 de maio, em São Miguel, também é celebrada noutras ilhas dos Açores, no continente e na diáspora, por ser um “culto muito próprio” dos açorianos, segundo a Diocese de Angra.
Há celebrações em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres em “São Miguel, Santa Maria, Graciosa, São Jorge, na caldeira, e nas Flores, por via dos construtores da igreja que estava para ser de Santana, mas depois um construtor era micaelense e fez com que a igreja da Fazenda, no concelho das Lajes das Flores, fosse dedicada ao Santo Cristo”, disse o vigário geral da Diocese de Angra, Cónego Hélder Fonseca Mendes em declarações à Lusa.
Celebrada há mais de três séculos com grande devoção em Ponta Delgada, a festa em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres é uma das maiores manifestações religiosas nos Açores e no país, cujo culto há muito se estende a outras ilhas e locais onde vivem açorianos.
Este ano, a festa religiosa em Ponta Delgada decorrerá entre 08 e 14 de maio, sob o lema “A Fé, Caminho de Salvação” e será presidida pelo bispo auxiliar de Braga, D. Francisco Senra Coelho.
“O culto mais antigo do Santo Cristo é sob a forma da Santa Cruz e aí é que está a origem do primeiro culto a Cristo. O culto centrado em Cristo ou na pessoa de Jesus é muito antigo e muito próprio da nossa diocese, porque noutras é muito Nossa Senhora e os santos”, referiu o cónego Hélder Fonseca Mendes.
Em São Miguel, o culto ao ‘Ecce Homo’ terá começado no Convento da Caloura, em Água de Pau, concelho da Lagoa, passando depois para outras ilhas e para os principais destinos da emigração açoriana.
Por exemplo, desde 2004 que se celebra anualmente a festa do Senhor Santo Cristo na Igreja de Nossa Senhora da Vitória, na baixa de Lisboa, devido à devoção do frei Francisco Fialho, natural da ilha Terceira, que reside no continente há mais de 25 anos.
À semelhança do que acontece com a imagem do ‘Ecce Homo’ em Ponta Delgada, durante os dias da festa, a réplica da imagem, que mede cerca de 40 centímetros, é exposta num altar lateral da igreja lisboeta, dentro de um andor de flores multicolores, usando uma capa bordada com fios de ouro.
Mas ao contrário do que acontece nos Açores, em Lisboa não há procissão pelas ruas, apenas uma missa no sábado, precisamente ao mesmo tempo que, em Ponta Delgada, a imagem sai do convento onde está durante o ano, é recebida pela Irmandade do Santo Cristo e dá a volta ao Campo de São Francisco, onde milhares de pessoas costumam pagar as suas promessas.
O vigário geral da diocese açoriana afirmou, ainda, que é hábito no arquipélago muitas misericórdias celebrarem o Santo Cristo, normalmente, no início de janeiro, dado que “nessa altura se celebra a festa do nome de Jesus e, praticamente, todas as misericórdias dos Açores têm uma festa ao Santo Cristo das Misericórdias, mas sob a forma da cruz”.
Para o Cónego Hélder Fonseca Mendes, as várias imagens que existem do Santo Cristo, em especial a de Ponta Delgada, mostram “um olhar, ternura e bondade que fixam o aspeto humano da paixão e sofrimento de Jesus”, levando as pessoas a identificarem-se com os sofrimentos das suas próprias vidas.
Em janeiro, o parlamento dos Açores aprovou, por unanimidade, a classificação da imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres e de mais cinco peças associadas a este culto como “tesouro regional”.
Guardada no coro baixo do Convento da Esperança, em Ponta Delgada, está a imagem do “Ecce Homo”, que se estima remontar aos séculos XVI ou XVII, assim como o cetro, a corda, a coroa, o relicário e o resplendor, peças propriedade da Diocese de Angra do Heroísmo.
In: IgrejaAçores