Mensagem Pascal

O MISTÉRIO PASCAL: MÁXIMA REVELAÇÃO DA MISERICÓRDIA

Depois da caminhada quaresmal, chegamos à Semana Santa e à Páscoa, celebração da Paixão-Morte e Ressurreição de Jesus. Efetivamente, é no Mistério Pascal de Cristo que se dá a máxima expressão da misericórdia divina.

Como muito bem explica S. João Paulo II, «Cristo Pascal é a encarnação definitiva da misericórdia (…).  O Mistério Pascal é Cristo na cúpula da revelação do imperscrutável Mistério de Deus. É precisamente então que se verificam plenamente as palavras pronunciadas no Cenáculo: “Quem Me vê, vê o Pai”» (Jo 14, 9).

«De fato, Cristo, a quem o Pai “não poupou” (Rm 8, 32) em favor do homem e que na Sua Paixão, assim como no suplício da Cruz, não encontrou misericórdia humana, na Ressurreição revelou a plenitude daquele amor que o Pai nutre para com Ele e n’Ele para com todos os homens (…). O amor, contendo a justiça, dá origem à misericórdia, a qual, por sua vez, revela a perfeição da justiça» (Encíclica Dives in Misericordia, 1980, nº 8).

Assim, quando falamos de misericórdia não estamos a relativizar a justiça.  «A Bíblia supera o clamor pela justiça com o apelo à misericórdia. Ela entende a misericórdia como a própria justiça de Deus. Enquanto superação da justiça e não como relativização da mesma, a misericórdia constitui o núcleo da mensagem bíblica. O Antigo Testamento apresenta Deus como um Deus clemente e misericordioso (cf Ex 34, 6; Sl 86, 15; etc.) e o Novo Testamento chama a Deus “o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação» (“ Cor 1, 3; cf Ef 2, 4)» (Card. Walter Kasper, A Misericórdia, Condição Fundamental do Evangelho e Chave da Vida Cristã, Lucerna, 2014, p. 30).

Jesus revela o Deus-Amor, que é todo misericórdia e só misericórdia: em toda a Sua vida, em que passou fazendo o bem (cf Actos) e, sobretudo, com a entrega total na Cruz, que culmina na Ressurreição, que é a vitória da vida.

«O Seu caminho é também o nosso caminho» (Regra de Vida SCJ). Por mais paradoxal que possa parecer, é pela Cruz que se atinge a vida em plenitude. Não a cruz pela cruz, mas a Cruz, assumida e vivida com Cristo e como Cristo, como caminho que leva ao triunfo final. Com Ele e n’Ele também nós venceremos a morte e tudo o que oprime o ser humano.

Por isso mesmo, o Mistério Pascal de Cristo traz a esperança certa de um mundo melhor e diferente, que nos compromete a dar o nosso contributo pelo progresso da civilização humana.

Jesus, com o Mistério Pascal, veio tornar possível o Reino de Deus: Reino de Justiça, Amor e Paz. «Como já afirmava O Papa Paulo VI e foi repetido tanto por João Paulo II, como por Bento XVI, é necessário construir, para além de uma cultura da justiça, uma «civilização do amor». É, desta forma, que a Igreja e os grupos eclesiais podem, de alguma forma, contribuir para a humanização da sociedade e do sistema social (…).

«A vida humana e uma sociedade verdadeiramente humanitária não são possíveis sem amizade, comunidade, solidariedade e, justamente, misericórdia… O amor e a misericórdia têm o seu lugar, antes de mais, nas relações humanas de proximidade. Mas também são uma condição fundamental e indispensável para a convivência no seio de um povo, assim como entre os povos» (Card. Walter Kasper, Ibid., p. 237-238).

Nesse sentido, são claras as palavras do Papa emérito, Bento XVI: «O amor – caritas – será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do amor prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem. Sempre haverá sofrimento, que necessita de consolação e ajuda. Haverá sempre solidão. Existirão sempre também situações de necessidade material, para as quais é indispensável uma ajuda, na linha de um amor concreto ao próximo» (Bento XVI, Deus Caritas Est, 2005, 28b).

«O amor, contendo a justiça, dá origem à misericórdia, a qual, por sua vez, revela a perfeição da justiça» (DM 8). Eis o que realiza e continua a realizar o Mistério Pascal de Cristo. A Ressurreição de Jesus é um novo tipo de presença no meio de nós: uma presença “espiritual”, que se realiza, precisamente, pelo Espírito Santo, que Jesus prometeu enviar e envia, para estar sempre connosco até ao fim dos tempos, para que a Igreja possa cumprir o mandato missionário de anunciar e testemunhar o Evangelho em todo o mundo, qual fermento que leveda a massa.

Não será a lógica do marxismo ou do capitalismo liberal que vai levar a uma sociedade mais humana, justa e fraterna. O mundo será diferente só na medida em que enveredar pelo caminho do amor, que tem a sua máxima expressão na misericórdia, isto é, na capacidade de ter “compaixão”: ser capaz de “padecer-com”, de se colocar no lugar do outro e de assumir a sua situação. Com Cristo e como Cristo. N’Ele já vencemos todo o mal e a morte.

Por isso, é Páscoa: triunfo da misericórdia. Votos de Boa Páscoa a todos, nomeadamente, para quem mais sente o peso da cruz da vida. Sinto-me em comunhão com todos/as. A operação correu bem e vou recuperando lentamente. Dando graças a Deus, quero também exprimir o meu reconhecimento a todos aqueles/as, que me acompanharam com a sua oração e amizade, com as suas mensagens e votos. Na impossibilidade de me dirigir a cada um/a em particular, aproveito esta oportunidade para agradecer a todos/as. Bem haja!

Força, coragem e esperança! O Senhor Jesus ressuscitou por nós e para nós. Aleluia!

 

+ António, Bispo de Angra

Alfragide, 25 de Março de 2015,

Solenidade da Anunciação do Senhor.

Igreja Católica vive Semana Santa evocando «mistério de Cristo»

A Igreja Católica inicia hoje, com o Domingo de Ramos, a celebração da Semana Santa, os momentos centrais do ano litúrgico que, em muitas cidades, levam à evocação dos momentos da Paixão de Jesus.

“Desejo-vos uma santa semana, na contemplação do mistério de Jesus Cristo”, disse Francisco, no final da celebração que decorreu esta manhã na Praça de São Pedro, no Vaticano.

A celebração dos últimos dias da vida de Cristo começou pela evocação da sua entrada messiânica em Jerusalém e a bênção dos ramos.

O Papa rezou para que os cristãos vivam esta semana “com fé”, na atitude da Virgem Maria, para “seguir o Senhor, mesmo quando o seu caminho leva à cruz”.

Os momentos centrais da Semana Santa começam na quinta-feira, dia em que se celebram a Missa Crismal e a Missa da Ceia do Senhor.

Antigamente, na manhã deste dia celebrava-se o rito da reconciliação dos penitentes, a quem tinha sido imposto o cilício em Quarta-feira de Cinzas.

A manhã foi preenchida pela Missa Crismal, que reúne em torno do bispo o clero da Diocese, na qual são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o santo óleo do crisma.

Com a Missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor: é comemorada a instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e o mandamento do Amor (o gesto do lava-pés).

No final da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares.

Na Sexta-feira Santa não se celebra a missa, tendo lugar a celebração da morte do Senhor, com a adoração da cruz; o silêncio, o jejum e a oração marcam este dia.

O Sábado Santo é dia alitúrgico: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor e a única celebração primitiva parece ter sido o jejum.

A Vigília Pascal é a “mãe de todas as celebrações” da Igreja, evocando a Ressurreição de Cristo.

Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Batismo, por fim, a liturgia Eucarística.

CR/Ecclesia/IgrejaAçores

200 crianças do Colégio de São Francisco Xavier participam em romaria quaresmal

Cerca de 200 alunos do Colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada, participaram esta manhã na 14ª romaria quaresmal, percorrendo as ruas de Ponta Delgada entre o Colégio e  a Igreja de São José, parando em três igrejas de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Carmo e Senhor Santo Cristo dos Milagres.

Os romeiros por um dia,  frequentam as salas dos cinco anos e dos segundo e quarto anos do primeiro ciclo.

Os alunos saíram do Colégio pelas 9h30, acompanhados de cinco Romeiros do Rancho  de São Roque, trajando a indumentária própria do romeiro: o lenço, o xaile, o bordão, a saca e o terço. Atrás seguiam as meninas que levavam um lanche para oferecer aos “irmãos romeiros”`a chegada a São José e depois da celebração da palavra, com o Pe Norberto Brum.

“Com esta iniciativa pretendemos perpetuar a tradição das romarias quaresmais de São Miguel que são um legado espiritual e cultural desta terra”, sublinha a diretora do Colégio, Irmã Domingas Lisboa, acentuando “os valores, virtudes e vivências que importa preservar, no essencial, nas suas características originais, pois constituem um legado inestimável de Fé e Esperança dos nossos antepassados”.

A romaria é o culminar de semanas de preparação, onde toda a comunidade educativa e, principalmente, os alunos que sairam na romaria, se prepararam espiritualmente. No entanto, a “romaria é apenas uma pequena caminhada que não se esgota num dia nem no percurso”, refere a responsável ressalvando as “catequeses” e orientações transmitidas ao longo da preparação quer pelas educadoras, professoras e Irmãs, quer pelo Pe Norberto Brum, que “alertou os alunos para a importância de cada um ser romeiro durante todo o ano e não somente durante esta época quaresmal”, lembrando que “o verdadeiro romeiro, todos os dias, tenta ser bom, reza e trata o outro como um “irmão.”

A resta manhã animou os cânticos dentro da Igreja de São José,  lembra, ainda, o facto de liturgicamente se estar a viver a Quaresma- “tempo de conversão, penitência e meditação” que convidam “à renuncia, à doação e à oração”.

“No Colégio procuramos que as crianças se formem tendo em conta os valores cristãos e por isso não poderíamos descurar esta parte espiritual que contribui para a formação integral dos nossos jovens”, conclui .

Igreja Açores

Entrevista Pe. Nuno Maiato in Atlantico Expresso

Enquanto diretor espiritual do Grupo Coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel, quais são os desafios que considera que se colocam hoje espiritualmente aos romeiros?
Os de sempre. Espiritualmente os desafios são intemporais. O romeiro procura reencontrar-se consigo, com Deus e com os outros e, a partir deste reencontro, recuperar o sentido da sua existência. No fundo, cada irmão pretende responder, de acordo com o agora da sua existência, às questões verdadeiramente importantes da vida.

Ser romeiro hoje significa o quê, face à sua própria experiência e aos testemunhos que tem recolhido?
Uma necessidade e um desafio. Ao contrário do que algumas pessoas pensam e chegam a exigir dos romeiros, estes homens não são super heróis, nem santos, mas pessoas com consciência da sua condição de pecadores. E a partir deste conhecimento que tem deles próprios nasce a necessidade de Deus, isto é, n’Ele encontram a força e a paz para superarem as fragilidades e obstáculos que a vida os coloca. Consequentemente existe a vontade de serem melhores pessoas e cristãos o que se traduz num desafio constante nas suas vidas.

Há diferenças entre os romeiros de hoje e os de ontem? E dos de outras ilhas e dos que vêm de fora de São Miguel, nomeadamente da diáspora?
Substancialmente não, mas é obvio que a nível circunstancial existem diferenças e sempre vão existir. A história da humanidade e da igreja ensina-nos que os Homens de ontem e de hoje procuram o mesmo, a felicidade. No entanto, se esta procura igualiza-nos, diferenciamo-nos pelas circunstâncias do momento e local onde vivemos. Parafraseando o Papa João XXIII «é muito mais o que nos une do que o que nos separa».

Hoje quais os motivos que levam a que um homem comece a ser romeiro ou se mantenha nesta caminhada de fé, de ano para ano?
A motivação primeira pode ser fruto da curiosidade, de uma promessa ou de muitos outros motivos que só Deus e cada irmão romeiro conhecem. Depois da primeira romaria, entendo que o denominador mais comum é uma forte vivência da fraternidade que se faz durante uma romaria, isto é, pelo menos durante aquela semana sentimo-nos todos irmãos, não há pobre nem rico, senhor doutor ou carpinteiro. Se isso ainda não fosse suficientemente motivador, acontece uma evangélica e constante permuta de dons e de bens.
Estou cada vez mais convencido que uma romaria é como um workshop da vivência plena do que é ser igreja na sua tríplice dimensão: sacerdotal, profética e real ou de serviço. E esta vivência enriquece e propõe a cada romeiro um modo diferente de estar e fazer a romaria da vida. A romaria aperfeiçoa-nos, mas não nos torna perfeitos, por isso, estes homens precisam de continuar romeiros.

5. Este ano houve mais ou menos homens a procurar aderir às romarias?
Este ano somos cerca de 2400 irmãos, num total de 55 ranchos, o que significa que a adesão às romarias está de acordo com o que tem sido habitual nos últimos anos.

As Romarias Quaresmais este ano estão já a decorrer entre 21 de fevereiro e 2 de abril sob o lema “A Alegria do Evangelho proposta na Exortação Apostólica do Papa Francisco, a partir das várias dimensões da vida”. Pode falar-nos um pouco desta exortação do Papa e da importância da caminhada tendo ao peito, de cada romeiro, uma fita benta pelo mesmo, em sinal de união?
Numa frase, a exortação pode-se resumir na urgência e dever que todos os cristãos devem sentir em partilharem e testemunharem, com a autenticidade que o evangelho nos desafia, a verdadeira alegria de sermos cristãos, que é Jesus Cristo. O papa diz-nos, entre muitas coisas, (que os anteriores Papas já disseram, mas numa linguagem mais próxima das pessoas e por isso mais motivadora) que prefere «uma igreja acidentada» porque é ousada, porque arrisca na forma como comunica esta alegria, do que «uma igreja comodamente fechada» em estruturas e vivências caducas e com cada vez menos sentido. A esta igreja, do «primeiro ao último batizado», recorda que a atenção aos pobres não é uma opção, mas a primeira e essencial obrigação na vida de todos os cristãos.
Quanto às fitas, estas pretendem, de facto, ser um sinal de união com o Papa e com a Igreja. Em dezembro passado, dois elementos do Grupo Coordenado foram entregar ao Papa o ramalhete espiritual das romarias quaresmais de 2014. Fizeram-no em nome de todos romeiros e por isso, naquele momento pediram a bênção do Santo Padre para todos, bênção esta que simbolicamente se materializa nestas fitas sobre as quais o Papa nos abençoou. Igualmente simbólico, é o gesto do romeiro a colocar junto ao peito, recorda  o desejo que Francisco apresentou, na sua mensagem para a quaresma deste ano, a toda a Igreja para pedirmos a Deus com ele: «Senhor, fazei o nosso coração semelhante ao vosso».

In Atlantico Expresso (02/03/2015)