Pelo Padre Davide Barcelos*
Diretor Espiritual do Movimento de Romeiros de São Miguel
Estimado Irmão Romeiro,
Vivemos na atualidade momentos de ansiedade, medo e desconfiança em relação ao presente e ao futuro. As notícias que todos os dias nos chegam através dos mais variados meios de comunicação social apresentam um cenário de tristeza e de morte.
Este ano, as nossas romarias foram canceladas mediante as normas do Estado de Emergência e para a segurança de todos. Não foi uma decisão fácil de tomar pelo Grupo Coordenador, mas foi a melhor decisão face ao momento presente. Seria da nossa parte, como Romeiros, uma irresponsabilidade sairmos sabendo o perigo que a todos espreita, não só para nós, mas para quem se cruzasse connosco pelo caminho e para com as famílias que nos iriam acolher do frio da noite.
Os tempos que se aproximam serão tempos muito difíceis, sobretudo ao nível profissional e económico. Começamos a ouvir, que muitos estão a ir para o desemprego e que as empresas estão a fechar as portas e atividade, trazendo ainda mais insegurança para a nossa vida pessoal e familiar. Contudo, penso que Deus está a oferecer-nos um tempo de graça. Um tempo de reflexão profunda, um verdadeiro retiro espiritual, onde podemos analisar a nossa vida: como vivíamos antes; como vivemos agora e como queremos viver no futuro? Deus está a ensinar-nos que podemos ser felizes com pouco, rodeados daqueles que mais amamos e que afinal temos tempo para a família e para tudo. Deus está a alertar-nos que a vida é muito bonita e que devemos vivê-la intensamente, aproveitando cada segundo, tendo sempre presente que Deus é o nosso companheiro nesta grande romaria, que é a nossa vida. Deus está a ensinar-nos a tirar tempo para Ele, através da nossa oração pessoal, na Eucaristia Dominical, em comunidade, em família e com os amigos. Por isso, vejo este momento, como um momento de enorme gratidão, onde aquilo que tenho para oferecer aos outros não é a minha inteligência, as minhas capacidades, o meu poder, a minha influência ou os meus contactos, mas a minha própria fragilidade humana, através da qual o amor de Deus se pode manifestar.
Servir, estimado Irmão Romeiro, é entrar, com a nossa fragilidade humana, em comunhão com os outros e levar-lhes uma palavra de Esperança. Servir pode parecer uma ideia pia, mas na verdade requer o reconhecimento humilde de que a nossa vida não é uma posse a proteger dos outros, mas uma dádiva a ser partilhada. Tudo o que temos foi-nos dado. Compete-nos, então, estarmos gratos e exprimirmos essa gratidão. Um grupo cristão, como os Romeiros, é um grupo autêntico quando alimenta atitudes de gratidão, aceitação dos dons e partilha de graças. Um grupo cristão autêntico alimenta o espírito de gratidão e de serviço na vida espiritual.
Tudo isto, leva-nos a prestar atenção ao estado do nosso coração, onde se: • Pede uma disposição perseverante para nos renovarmos com o Espírito Santo; • Exige a coragem para examinarmos minuciosamente os nossos impulsos e abrirmos o coração a novos modos de ser; • Ensina a ser recetores em vez de usurpadores; • Ajuda a ver o sofrimento e a dor do mundo não como interrupções perturbadoras, mas como convites a mudar o coração. Vivemos uma ocasião propícia para aprendermos a escutar tudo o que se passa, acreditando que a mão de Deus nos guia.
Neste sentido, convido o Irmão Romeiro a seguir durante a semana o Manual de Oração que foi elaborado pelo grupo Coordenador para a vivência da Romaria. A rezar a reza pedida, e neste caso pela saúde de todos no mundo e um terço pelas intenções da Igreja que embora de portas fechadas, canta, louva e reza ao seu Senhor, pedindo que tudo isto passe rapidamente.
Estimado Amigo e Irmão Romeiro, deixo-vos esta mensagem de um livro magnífico de Enrique Rojas, “A vida não se improvisa. Como construir um projeto de felicidade numa era em que tudo parece descartável”, das edições Matéria-Prima: «A verdadeira felicidade conquista-se com sabedoria. Não é algo que aconteça, de repente, apenas a alguns de nós. A verdadeira realização pessoal tem de ser planeada e implica encontrar um sentido de vida que nos preencha, muito além do bem-estar momentâneo. Possuir um projeto de vida coerente e realista é a melhor porta de entrada para a felicidade, que a longo prazo não é mais do que uma vida conseguida. Não podemos ficar pela casca da fruta. Temos de cruzar a fronteira da superfície e penetrar nas nossas profundezas». Eis o tempo favorável, eis o tempo da graça para a grande mudança na nossa vida em busca da verdadeira felicidade, que é nos oferecida por Jesus Cristo, nosso Salvador! Que Maria Santíssima nos ajude a viver bem este tempo de silêncio e oração. Santa Quaresma!
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