Entre o primeiro sábado da Quaresma, 17 de fevereiro e a Quinta-Feira Santa, 29 de março, 2500 homens são esperados nas estradas da maior ilha do arquipélago. Começam as romarias quaresmais que este ano mobilizam 52 ranchos que integram cada vez mais romeiros provenientes de outras paragens, nomeadamente da diáspora e de Portugal continental.
Para além das intenções particulares de cada um e daquelas que vão sendo pedidas pelas comunidades na passagem por cada uma das freguesias e lugares da ilha, os romeiros levam um “caderno de encargos” proposto pelo bispo diocesano.
Ao todo são 10 as intenções que os romeiros devem ter em atenção nas suas orações: a santificação dos sacerdotes da diocese, as vocações sacerdotais, consagradas, religiosas e missionárias, as famílias, os jovens; os leigos, os pobres e excluídos, os desempregados , doentes e idosos, o Santo Padre e as crianças e catequistas diocesanos “para que sintam a alegria de conhecer, amar e seguir a Jesus Cristo” refere o bispo de Angra no documento que enviou aos romeiros.
As romarias não são um “copy paste umas das outras” mas quem faz e participa numa romaria sabe que pode contar com o conforto de uma “máquina” que já começa a estar oleada, sobretudo nos últimos anos, altura em que o regulamento dos romeiros foi aprovado e algumas dificuldades foram sendo ultrapassadas.
“Chegado o tempo, das nossas queridas Romarias Quaresmais de S. Miguel, uma vez mais, vamos por toda a nossa Ilha, em oito dias de proximidade especial, com Deus e com os Homens; em Oração e Amor; docemente caminhando com Maria, ao Encontro de Jesus” refere uma nota do Grupo Coordenador, publicada na página on line do Movimento de Romeiros de São Miguel.
Entre os conselhos propostos pelo Grupo Coordenador há questões de disciplina, pastorais e espirituais, para as quais não faltam conselhos. E até comportamentais.
O grupo coordenador destaca a importância “do espírito e sentimentos cristãos, em obediência e humildade”, salientando a necessidade de uma boa preparação que deve ser desenvolvida com a orientação do sacerdote de cada paróquia de onde sai o rancho mas também com o contributo de leigos e cristãos comprometidos que testemunhem e “enriqueçam a preparação com as suas partilhas e conhecimentos”.
O Grupo Coordenador pede ainda aos romeiros que sejam “ecológicos, respeitando a natureza, como obra prima da Criação Divina, deixando nos trilhos e caminhos, como única pegada, a nossa Oração”.
Pedidos que ficam para que “a Caminhada Espiritual, seja e ative, a capacidade e vontade, de sermos testemunhos vivos, como Cristãos e Homens renovados, na nossa família e na sociedade”.
Também na Terceira, o Rancho da Conceição, em Angra do Heroismo, já está a fazer a sua preparação tendo agendada a sua romaria entre os dias 7 e 11 de março.
As tradicionais romarias de São Miguel assumem “uma dimensão comunitária” e “tocam” centenas de pessoas que se unem em várias freguesias da maior ilha açoriana para disponibilizar meios para a pernoita e a alimentação dos romeiros.
Estes romeiros percorrem quilómetros e quilómetros a pé durante uma semana, trajando um xaile, lenço, saco para alimentos, bordão e terço, entoando cânticos e rezando.
Estas romarias quaresmais, segundo a tradição, tiveram origem na sequência de terramotos e erupções vulcânicas ocorridas no século XVI na ilha, que arrasaram Vila Franca do Campo e causaram grande destruição na Ribeira Grande.
Os ranchos são organizados e devem cumprir um percurso, sempre com mar pela esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas de S. Miguel.