PAPA RESPONDE A CARTA DO MRSM

O Bispo de Angra recebeu esta semana duas cartas do Vaticano, em nome do Papa Francisco, a agradecer as 12 garrafas de Vinho de Missa enviadas ao Papa por ocasião do primeiro ano de Pontificado  e as orações feitas pelos Romeiros durante a Quaresma, apurou o Portal da Diocese junto de fonte da Cúria.

As duas cartas, que terminam com uma “bênção apostólica” do Papa a D. António extensiva a toda a diocese de Angra, são assinadas por Angelo Becciu, chefe de gabinete de Francisco, no Vaticano.

Nas duas cartas, datadas de 6 de maio, o Bispo de Roma agradece as orações dos romeiros “em caminhada pelas casas de Nossa Senhora, rezando e sacrificando-se pelas grandes intenções da Igreja, nomeadamente pelo Papa Francisco”, diz uma delas.

O Santo Padre diz-se “feliz e agradecido” e sublinha a importância de cada um dos romeiros para o crescimento da fé, pedindo-lhes que “continuem a rezar por ele”.

Já no que respeita ao envio do vinho de Missa, da Cooperativa Vitivinícola do Pico, Francisco destaca “o significativo presente de 12 garrafas” e classifica-o de “delicado gesto portador do conforto e incentivo para a grande responsabilidade pastoral”.

diocesedeangra.pt

MENSAGEM DO PAPA PARA A QUARESMA 2014

FEZ-SE POBRE, PARA NOS ENRIQUECER COM A SUA POBREZA (cf. 2 Cor 8, 9)

Queridos irmãos e irmãs!

Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?

A GRAÇA DE CRISTO

Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, fez-Se pobre por vós». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, «esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus «trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado» (CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).

A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – «para vos enriquecer com a sua pobreza». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Batista para O batizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para Se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), «herdeiro de todas as coisas» (Heb 1, 2).

Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10, 25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf. Rm 8, 29).

Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.

O NOSSO TESTEMUNHO

Poderíamos pensar que este «caminho» da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d’Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.

À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.

Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspetivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se veem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos autossuficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.

O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.

Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.

Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

Papa Francisco

PDF MRSM MESAGEM PAPA QUARESMA 2014.pdf (189,7 kB)

BISPO DE ANGRA VAI PROMOVER ROMEIROS JUNTO DO PAPA

D. António de Sousa Braga vai escrever ao Papa Francisco para dar a conhecer a existência do Movimento de Romeiros de São Miguel e da sua religiosidade no contexto do testemunho da fé, apurou o Portal da Diocese, este domingo durante o retiro que o Movimento promoveu na Ribeira Grande, reunindo mestres, contramestres e responsáveis pelos Romeiros.

“Ainda não sei como o vou fazer mas a verdade é que o Papa Francisco precisa de ser informando que nos Açores há irmãos que através do testemunho vivo comunicam a sua fé e que durante o período da Romaria rezam a Deus por ele, por intersecção de Maria”, disse ao Portal da Diocese o Prelado Diocesano, lembrando que o Santo Padre na exortação apostólica A Alegria do Evangelho apela às romarias e a esta valorização da religiosidade popular.

O Movimento Romeiros de São Miguel fez este domingo o primeiro retiro do ano, na caminhada da preparação para a Quaresma e procurou debater e aprofundar a questão da comunicação e da evangelização.

Um dos oradores convidados foi o Pe Júlio Rocha, professor de Teologia Moral no Seminário Episcopal de Angra que dissertou sobre o tema “Jesus, o Eterno Comunicador” a partir de duas pinturas – O filho pródigo de Rembrandt e A criação de Adão,  de Miguel Ângelo e que constitui um dos frescos mais emblemáticos do teto da Capela Sistina, no Vaticano.

Em ambos os casos, a questão central é a do Amor de Deus, a proteção que esse amor oferece a quem a ele se entrega e a comunicação desse amor por Jesus, na vida dos homens,  através de sinais e de graças.

“Deus não entra por nenhum sentido e toda a história da humanidade é uma caminhada para chegar a Deus que se manifesta na vida por sinais” disse Júlio Rocha para quem “só o amor de Deus e o amor a Deus é digno de fé”.

Por isso, diz o professor de Teologia Moral e um dos intelectuais da Igreja no arquipélago, o “despojamento deste amor”, que “não tem paralelo em nenhum outro, mesmo quando todos os outros falham”  é o que nos ensinam estas romarias quaresmais feitas em São Miguel.

“O que guia um rancho de romeiros é apenas este amor incondicional de Deus e a Deus e a presença do  nosso irmão”, disse Júlio Rocha que convidou todos os cristãos a desenvolver este tipo de experiência de fé.

“Enquanto não percebermos esta simples dimensão vamos sempre dar mais atenção às velas do altar, à riqueza das casulas ou à pomposidade das cerimónias rituais”, concluiu.

Para Júlio Rocha, o testemunho dos romeiros é “uma das formas de comunicação” mais “exigentes e genuínas” entre as manifestações de fé e “todos deveríamos ter a possibilidade e a vontade de fazer uma romaria e realizar uma caminhada  de fé como esta”.

Depois do almoço, os participantes neste retiro fizeram a adoração do Santissimo e terminaram com uma Eucaristia.

Os cerca de 50 ranchos de romeiros voltam a sair à rua este ano durante a Quaresma, com a participação de dois ranchos provenientes do Canadá. O primeiro rancho sairá a 8 de Março e o dia do Romeiro (3º domingo de Páscoa), a 4 de maio, será celebrado na paróquia do Livramento, sendo o rancho local o anfitrião da festa.

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