“O Espírito Santo aplanou as nossas estradas” diz o coordenador dos Romeiros de São Miguel

As Romarias Quaresmais de São Miguel correram “muito bem” e o “Espírito Santo aplanou as estradas” percorridas por 2400 romeiros, disse ao Sítio Igreja Açores o coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel (MRSM), João Carlos Leite.

“O bom tempo ajudou e muitos ranchos referem-se como sendo das melhores que realizaram. O sentido cristão do amor , da partilha, da entre-ajuda, do serviço aos outros, do acolhimento, da oração e meditação foram muito vivenciados “, disse o responsável lembrando os desejos formulados pelo Papa Francisco aquando da audiência geral em que o movimento foi acolhido no Vaticano, no dia 3 de dezembro passado.

“O Espirito Santo aplanou as nossas estradas, como desejou o Papa Francisco”, sublinhou João Carlos Leite que adianta, ainda, que apesar da crise verificada o acolhimento continua a ser um dos pontos fundamentais da romaria, que este ano se realizou entre os dias 21 de fevereiro e 2 de abril.

“O Acolhimento aos ranchos nas pernoitas foi extraordinário” disse João Carlos Leite, destacando “o  envolvimento cada vez mais caloroso” das pessoas que acolhem os romeiros nas pernoitas.

“Pedem-nos muito para rezarmos pelas suas intenções: pão, trabalho, saúde, pela família, felicidade dos filhos….” o que para o coordenador do MRSM “é uma responsabilidade”.

No entanto, João Carlos Leite garante que “vale a pena” sobretudo porque é a melhor maneira de experienciar “o intercâmbio e a vivência do amor cristão” que por exemplo nos salões, onde muitos ranchos têm de ficar por falta de resposta local (comunidades muito pequenas e ranchos muito grandes) “não oferecem”.

Questionado sobre os desafios futuros, agora que terminaram as romarias, e no momento em que o Santo Padre declarou o próximo ano como o Ano do Jubileu da Misericórdia, João Carlos Leite insiste que “é necessário deixarmos de ser romeiros de uma semana, celebrar os sacramentos, sobretudo a Eucaristia para que Cristo entre nas nossas vidas e as encha de graças”.

“Mesmo quando vivemos nalgum desalento”, diz o responsável é preciso “levantar a cabeça e recomeçar com a certeza que o Senhor está sempre de braços abertos para nos acolher”.

Além disso, os romeiros têm uma especial “responsabilidade de tornar o mundo menos frio e mais justo, sem medo da bondade e da ternura “.

Para o dirigente a aposta do grupo coordenador continua centrada na “formação continuada, particularmente da Palavra escutada, vivida, celebrada e testemunhada e responder com a nossa vida, amando com o Amor de Jesus”.

“Vamos procurar dinamizar as equipas da cultura, da formação e da pastoral, (a equipa da comunicação já está a trabalhar em pleno), e evoluir com a caminhada formativa para se realizar em fins de semana  a nível de ouvidorias”, adianta João Carlos Leite.

O MRSM está agora focado nas comemorações do Dia do Romeiro, a 19 de Abril, em Ponta Delgada, no Salão de São José, numa organização conjunta dos Ranchos da Cidade- São Pedro, São José, São Sebastião e Santa Clara- e com a revisão do regulamento, cuja proposta final conta enviar para o Bispo de Angra no final do mês de maio. Durante o mês de Junho, e a nível de ouvidoria,  o grupo coordenador do MRSM vai promover uma reunião com todos os responsáveis  para avaliar o trabalho já realizado e programarem o próximo ano pastoral.

In: Igreja Açores

Papa agradece ofertas dos Romeiros de São Miguel

O Movimento Romeiros de São Miguel acaba de receber uma carta do Vaticano a agradecer em nome do Papa Francisco os presentes oferecidos pelo Movimento no final da audiência geral do dia 3 de dezembro, na Praça de São Pedro, no Vaticano.

A missiva assinada por Monsenhor Peter Wells, assessor na Secretaria de Estado do Vaticano e datada de 9 de março, dá conta de que o Papa “repassando as palavras amigas e admirando a beleza dos presentes e dos sentimentos que ditaram a sua oferta exprime a sua gratidão” e, “batendo à porta do coração de cada um dos romeiros pede-lhes que continuem a rezar por ele”.

João Carlos Leite e Ildeberto Piques Garcia, membros do grupo coordenador do Movimento Romeiros de São Miguel, participaram na audiência geral de 3 de Dezembro, na Praça de São Pedro e, em nome dos Romeiros de São Miguel ofereceram a Francisco um terço, numa caixa de cedro, e uma indumentária em miniatura dos objetos transportados pelos romeiros: a saca, o lenço e o xaile.

Além dos presentes já mencionados os dois dirigentes ofereceram também um opúsculo com a história e o carisma do movimento que o Papa sublinha na missiva, lembrando que “recorda as pessoas mencionadas ao longo do texto e a todas envia um abraço afetuoso em Jesus e com Jesus”.

“Será ele, como fez com os dois discípulos extraviados e desiludidos de Emaús a aquecer-lhes o coração e a dar-lhes nova e segura esperança”, diz a carta.

A missiva termina com a habitual bênção apostólica e com um voto de que “Nossa Senhora seja a estrela que ilumina o compromisso e o caminho para levarem Jesus como Ela o fez, a cada pessoa que encontrem no dia a dia”.

O Movimento Romeiros de São Miguel tem estado particularmente próximo do Papa Francisco. Há dois anos que os romeiros rezam particularmente pelo Santo Padre durante a sua romaria Quaresmal, orações que já agradeceu em discurso direto na Praça de São Pedro, pedindo ao Espírito Santo que “aplane os caminhos” destes homens e das suas famílias.

Em declarações ao Sítio Igreja Açores o coordenador, João Carlos leite, já manifestou a “sua alegria” pelo conteúdo da carta e, sobretudo, pelos sentimentos que ela transporta.

“Com esta carta ainda selamos de uma forma mais firme esta nossa comunhão com o Papa Francisco”.
Referindo-se brevemente à forma como correram as romarias que hoje terminam com a entrada nas suas paróquias dos três ranchos que ainda permanecem na estrada- Pico da Pedra, Rosário da Lagoa e Rabo de Peixe-, João Carlos Leite afirma de tudo “correu muito bem e estamos certos de que a oração e a comunhão com o Papa Francisco ajudaram muito nesta caminhada”.

As romarias quaresmais terminam na quinta feira santa e os três ranchos que hoje entram nas suas comunidades paroquiais chegarão a tempo da Missa da Ceia do Senhor, com o tradicional cerimonial do Lava-Pés.

Para além da participação nas cerimónias do tríduo pascal e da Missa de Páscoa, os Romeiros vão ter uma celebração especial no próximo dia 19 de abril, altura em que comemoram o dia do Romeiro, que este ano decorrerá em São José, Ponta Delgada, numa organização conjunta dos Ranchos da Cidade- São José, São Sebastião, São Pedro e Santa Clara.

IgrejaAçores

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“A Romaria de São Miguel é muito mais que uma experiência. É um estilo de vida e de fé”

As romarias quaresmais na ilha de São Miguel caminham para o seu final. Quando a romaria termina muitas são as histórias que se contam e outras tantas que ficam por contar.

Uma que não poderia ficar por contar é a história de Mikael Thörn, um estudante de 27 anos, que veio da Suécia para participar na Romaria. O diácono Gaspar Pimentel. Aluno do Seminário Episcoapl de Angra,  esteve como ele ao longo da sua semana de caminhada com o rancho de Santa Barbara da ouvidoria de Capelas, e não quis que a sua passagem por estas terras ficasse esquecida.

Gaspar Pimentel (GP):Como é que um sueco teve conhecimento das romarias em São Miguel e decidiu vir fazer uma?

Mikael Thörn (MT): Às vezes, eventos imprevisíveis acontecem na nossa vida e precisamos de tempo para nós mesmos. O verão passado foi exemplo disso para mim. Por isso peguei numa mochila e dirigi-me sozinho para a Noruega para uma caminhada organizada nas montanhas. Neste caminho, conheci Joaquim Figueiredo, um escritor Português que faz diferentes peregrinações em todo mundo e que escreve livros sobre as experiências das suas viagens e caminhadas. Falou-me das romarias em São Miguel e perguntou se eu gostaria de participar. Seis meses mais tarde, aterrei em S. Miguel.

 

GP: No contacto com o Joaquim teve conhecimento que a romaria não é fácil. Contudo seis meses depois veio, porquê?

MT: Compreendi desde o início que a romaria em S. Miguel não seria fácil, mas a própria vida, por vezes, também não é fácil. Para dar um sentido a isto, senti esta indicação como um sinal e esta peregrinação apareceu como uma coisa que eu tinha que fazer!

GP: Foi uma espécie de chamamento e decidiu participar. O que é que fez como preparação para a semana de caminhada?

MT: Eu ouvi do Joaquim que esta romaria não era uma peregrinação fácil como já disse, mas também não sabia bem o que esperar. Por isso comecei a correr durante os seis meses antes da Romaria, para obter a força física Learn More. Isto tudo no meio do inverno sueco com temperaturas abaixo de 0 ° C, tempestades de neve… (ri-se)

GP: Um treino digno de filme. Então seis meses depois do início do treino chega pela primeira vez a Portugal, aterrando nos Açores . Presumo que fosse a primeira vez. Quais foram as primeiras impressões da ilha?

MT: Cheguei a Ponta Delgada cheio de expectativas e a beleza da ilha de S. Miguel impressionou-me. Eu não esperava que as montanhas seriam tão majestosas erguendo-se pelo Oceano Atlântico, nem que a vegetação que cobre o interior da ilha fosse muito semelhante à de  uma floresta tropical.

GP: E o rancho de Santa Barbara? O que tem a dizer  acerca das crianças, jovens e não tento jovens que partilharam o mesmo caminho?

MT: Eu gostaria de dizer muito sobre eles todos mas o que eu gostaria de dizer sobre todos os romeiros do rancho Santa Bárbara é que, após os 8 dias juntos, eu tenho 40 novos membros da minha família. Eu penso muito sobre os meus novos irmãos agora quando eu estou de volta na Suécia!

GP: Não sabendo português como é que foi a experiência de rezar e até cantar numa língua completamente nova i?

MT: Foi uma experiência completamente nova tentar aprender uma nova língua em apenas alguns dias. Não foi fácil, mas escutei muito atentamente e tentei compreender cada palavra que foi falada ou cantada. Aprendi Avé Maria em Português e consegui comunicar, embora criando por vezes muitas risadas e lembranças para a vida!

GP: Agora que fez a a romaria, fez também um avaliação da semana. O que mais o marcou?

MT: Há tantos momentos da Romaria que me tocaram! Por exemplo, o encontro com o Senhor Santo Cristo dos Milagres, com todas as famílias fantásticas que me recolheram, onde dormi e comi nas suas casas. Um dos momentos que mais me tocou foi o amor de um pai para com o seu filho e o esforço do seu filho. O filho, com a minha idade, teve um problema no final da Romaria com um joelho. Por cada passo que ele dava, podia ver-se a dor que ele sentia, mas ele estava determinado a não desistir e a não reclamar. O pai estava sentado, à espera que ele descesse uma colina. E quando ele chegou, não trocaram uma palavra sequer. Ambos sabiam que só o filho sozinho é que podia fazer o caminho por si mesmo. Uma lágrima caiu e atingiu o chão debaixo dos pés do pai.

GP: Até eu estou tocado com esta história. Chegamos à oitava e ultima pergunta, oito por cada dia de romaria. Agora tem uma história para contar. É uma experiencia a repetir?

MT: A Romaria de S. Miguel é mais do que uma experiência; é um estilo de vida, de amor e fé! Ela põe as pessoas de toda a ilha mais próximas umas das outras. Não importa o que tens,  se somos ricos ou pobres, se é um agricultor ou um banqueiro, ou quão grande ou pequena é a família que temos, porque na Romaria todos somos uma família e todos somos iguais. Se tiver tempo no futuro, eu gostaria de experimentar a Romaria de novo!

In: IgrejaAçores

Mensagem Pascal

O MISTÉRIO PASCAL: MÁXIMA REVELAÇÃO DA MISERICÓRDIA

Depois da caminhada quaresmal, chegamos à Semana Santa e à Páscoa, celebração da Paixão-Morte e Ressurreição de Jesus. Efetivamente, é no Mistério Pascal de Cristo que se dá a máxima expressão da misericórdia divina.

Como muito bem explica S. João Paulo II, «Cristo Pascal é a encarnação definitiva da misericórdia (…).  O Mistério Pascal é Cristo na cúpula da revelação do imperscrutável Mistério de Deus. É precisamente então que se verificam plenamente as palavras pronunciadas no Cenáculo: “Quem Me vê, vê o Pai”» (Jo 14, 9).

«De fato, Cristo, a quem o Pai “não poupou” (Rm 8, 32) em favor do homem e que na Sua Paixão, assim como no suplício da Cruz, não encontrou misericórdia humana, na Ressurreição revelou a plenitude daquele amor que o Pai nutre para com Ele e n’Ele para com todos os homens (…). O amor, contendo a justiça, dá origem à misericórdia, a qual, por sua vez, revela a perfeição da justiça» (Encíclica Dives in Misericordia, 1980, nº 8).

Assim, quando falamos de misericórdia não estamos a relativizar a justiça.  «A Bíblia supera o clamor pela justiça com o apelo à misericórdia. Ela entende a misericórdia como a própria justiça de Deus. Enquanto superação da justiça e não como relativização da mesma, a misericórdia constitui o núcleo da mensagem bíblica. O Antigo Testamento apresenta Deus como um Deus clemente e misericordioso (cf Ex 34, 6; Sl 86, 15; etc.) e o Novo Testamento chama a Deus “o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação» (“ Cor 1, 3; cf Ef 2, 4)» (Card. Walter Kasper, A Misericórdia, Condição Fundamental do Evangelho e Chave da Vida Cristã, Lucerna, 2014, p. 30).

Jesus revela o Deus-Amor, que é todo misericórdia e só misericórdia: em toda a Sua vida, em que passou fazendo o bem (cf Actos) e, sobretudo, com a entrega total na Cruz, que culmina na Ressurreição, que é a vitória da vida.

«O Seu caminho é também o nosso caminho» (Regra de Vida SCJ). Por mais paradoxal que possa parecer, é pela Cruz que se atinge a vida em plenitude. Não a cruz pela cruz, mas a Cruz, assumida e vivida com Cristo e como Cristo, como caminho que leva ao triunfo final. Com Ele e n’Ele também nós venceremos a morte e tudo o que oprime o ser humano.

Por isso mesmo, o Mistério Pascal de Cristo traz a esperança certa de um mundo melhor e diferente, que nos compromete a dar o nosso contributo pelo progresso da civilização humana.

Jesus, com o Mistério Pascal, veio tornar possível o Reino de Deus: Reino de Justiça, Amor e Paz. «Como já afirmava O Papa Paulo VI e foi repetido tanto por João Paulo II, como por Bento XVI, é necessário construir, para além de uma cultura da justiça, uma «civilização do amor». É, desta forma, que a Igreja e os grupos eclesiais podem, de alguma forma, contribuir para a humanização da sociedade e do sistema social (…).

«A vida humana e uma sociedade verdadeiramente humanitária não são possíveis sem amizade, comunidade, solidariedade e, justamente, misericórdia… O amor e a misericórdia têm o seu lugar, antes de mais, nas relações humanas de proximidade. Mas também são uma condição fundamental e indispensável para a convivência no seio de um povo, assim como entre os povos» (Card. Walter Kasper, Ibid., p. 237-238).

Nesse sentido, são claras as palavras do Papa emérito, Bento XVI: «O amor – caritas – será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do amor prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem. Sempre haverá sofrimento, que necessita de consolação e ajuda. Haverá sempre solidão. Existirão sempre também situações de necessidade material, para as quais é indispensável uma ajuda, na linha de um amor concreto ao próximo» (Bento XVI, Deus Caritas Est, 2005, 28b).

«O amor, contendo a justiça, dá origem à misericórdia, a qual, por sua vez, revela a perfeição da justiça» (DM 8). Eis o que realiza e continua a realizar o Mistério Pascal de Cristo. A Ressurreição de Jesus é um novo tipo de presença no meio de nós: uma presença “espiritual”, que se realiza, precisamente, pelo Espírito Santo, que Jesus prometeu enviar e envia, para estar sempre connosco até ao fim dos tempos, para que a Igreja possa cumprir o mandato missionário de anunciar e testemunhar o Evangelho em todo o mundo, qual fermento que leveda a massa.

Não será a lógica do marxismo ou do capitalismo liberal que vai levar a uma sociedade mais humana, justa e fraterna. O mundo será diferente só na medida em que enveredar pelo caminho do amor, que tem a sua máxima expressão na misericórdia, isto é, na capacidade de ter “compaixão”: ser capaz de “padecer-com”, de se colocar no lugar do outro e de assumir a sua situação. Com Cristo e como Cristo. N’Ele já vencemos todo o mal e a morte.

Por isso, é Páscoa: triunfo da misericórdia. Votos de Boa Páscoa a todos, nomeadamente, para quem mais sente o peso da cruz da vida. Sinto-me em comunhão com todos/as. A operação correu bem e vou recuperando lentamente. Dando graças a Deus, quero também exprimir o meu reconhecimento a todos aqueles/as, que me acompanharam com a sua oração e amizade, com as suas mensagens e votos. Na impossibilidade de me dirigir a cada um/a em particular, aproveito esta oportunidade para agradecer a todos/as. Bem haja!

Força, coragem e esperança! O Senhor Jesus ressuscitou por nós e para nós. Aleluia!

 

+ António, Bispo de Angra

Alfragide, 25 de Março de 2015,

Solenidade da Anunciação do Senhor.