Ouvidor de Ponta Delgada pede aos romeiros que não se deixem cair na “tentação do romeirismo”

Os romeiros “têm que ser discípulos de Jesus”, organizados em “ranchos de Jesus” sem caírem na tentação “do romeirismo”, disse esta tarde o ouvidor de Ponta Delgada na celebração do Dia do Romeiro, que se realizou no salão de São José, numa co organização dos quatro ranchos de romeiros da cidade de Ponta Delgada.

“O Romeiro é um meio para ser cristão, uma forma de alcançar a intimidade com Jesus, através da oração e da peregrinação. Num rancho são todos irmãos e amigos mas, por favor, não se desliguem do que é essencial que é a verdade de Jesus e não criem o romeirismo”, disse o Cónego José Medeiros Constância.

“Se os cristãos, e os romeiros em particular, não voltarem a Jesus de Nazaré que pela ressurreição se tornou Cristo, viverão uma fé de rituais, tradicional mas que não leva a lado nenhum”, sublinhou ainda.

O sacerdote, que dividiu a sua intervenção em quatro pontos salientou que o Romeiro “é um cristão de dois caminhos”, que durante a romaria experimenta “as estradas de Emaús e de Damasco”.

“Cada ano, cada romaria é uma estrada com dúvidas, com interrogações e sombras. Mas, durante a caminhada o encontro com Jesus faz com que a Romaria seja também um momento de conversão, que faz deixar de lado o egoísmo e o orgulho”, precisou o ouvidor de Ponta Delgada.

Por isso, deixou um apelo para que os romeiros sejam “verdadeiros discípulos de Jesus” e os Ranchos “ranchos de Jesus” que funcionem como “comunidades integradas noutras comunidades que são as paróquias”.

Lembrou, ainda, a história do movimento, para reforçar a ideia de que se trata de um movimento local, que deve ter uma “dimensão diocesana”.

“As romarias hoje têm uma dimensão diocesana e constituem uma força para a igreja de São Miguel mas também para a Diocese que acaba de ser reforçada pela comunhão com a Igreja Universal, concretamente, com o Papa”, frisou ainda o Cónego José Medeiros Constância.

O sacerdote deu o exemplo da ouvidoria que coordena para destacar que adas 18 comunidades paroquiais que forma a ouvidoria só três não têm ranchos de Romeiros o “que é bem demonstrativo da importância deste movimento” que é “uma verdadeira erupção se o compararmos com tempos passados”.

O que, no entanto, não deve impedir os responsáveis de procurar sedimentar ainda mais este espirito de romaria.

“O movimento cresceu muito nos últimos anos; todos se orgulham de ser romeiros mas é preciso ver que nem sempre está tudo bem e que é preciso melhorar” pois, “enquanto não formos apenas um grupo de Jesus não teremos os alicerces para nos aguentar”, concluiu.

O Dia do Romeiro que se celebra sempre no terceiro domingo de Páscoa este ano decorreu na paróquia de São José, embora a organização tivesse sido assumida conjuntamente pelos quatro ranchos da cidade de Ponta Delgada- São José, Santa Clara, São pedro e São Sebastião.

Luís Bettencourt, mestre do Rancho de São José, diz que esta organização conjunta foi uma “oportunidade de reforçar a irmandade que já existia e que agora se sedimentou com a graça de Deus”.

Mário Ponte, responsável pelo Rancho de São Sebastião, o mais pequeno da cidade “porque também e uma freguesia com poucos residentes” enfatiza a “simplicidade da organização” que deve estar sempre preocupada “com o fortalecimento do sentido cristão dos romeiros”.

Também Manuel Oliveira, mestre do rancho de Santa Clara, destacou a simplicidade da cerimónia e a disponibilidade de cada um dos romeiros presentes em estar neste dia “em convívio com os irmãos”.

Uma ideia também partilhada por Carlos Costa, mestre do rancho de São Pedro. “O que importa é a vontade e a motivação de cada um para estar aqui”.

Dos 2400 romeiros que este ano saíram para as estradas de São Miguel, neste dia reuniram-se perto de uma centena.

O assistente espiritual do Movimento, Pe Nuno Maiato, desvalorizou lembrando que “nas festas de família também há sempre quem falte, ou porque trabalha, ou porque não pode ou simplesmente porque não quer e nem por isso se deixam de realizar as festas do Natal, da Páscoa ou de aniversários”.

“O que verdadeiramente importa é destacar a vontade dos que aqui estão”, sublinhou lembrando que os romeiros devem “estar abertos à comunidade” como todos os movimentos da Igreja que “quando se centram sobre si mesmos correm o risco de se empobrecerem”.

João Carlos Leite, coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel, em declarações ao Sítio Igreja Açores também desvalorizou a “fraca adesão” o que “exigirá da nossa parte uma maior capacidade de mobilização”.

“É um desafio permanente tal como existem outros e nós estamos disponíveis para corresponder partindo sempre de uma auscultação de todos para que possamos ir ao encontro daquilo que é essencial: aprofundar a nossa fé, através do estudo e depois praticá-la através da ação”, precisou.

O Dia do Romeiro começou com o acolhimento, seguiu-se uma Eucaristia na Igreja de São José, concelebrada pelos padres José Constância, Nuno Maiato e Luís Leal (romeiro do rancho de São José) e depois, seguiu-se um convívio animado por Aníbal Raposo (também ele romeiro) e pelo Grupo Folclórico de Santa Cecília.

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