Romaria feminina de Santa Clara bate recorde de participações

856 senhoras partem este sábado da igreja de Santa Clara até ao Convento das Clarissas nas Calhetas de Rabo de Peixe A Romaria Feminina de Santa Clara, que sai este sábado às 5h00, depois da celebração eucarística na igreja paroquial de Santa Clara, em Ponta Delgada, rumo ao Convento das Clarissas em Rabo de Peixe, conta este ano com 856 senhoras, “um record absoluto” nesta caminhada de fé.

“Superou muito as nossas expetativas e temos, se calhar, de repensar o modelo desta romaria” disse ao Sítio Igreja Açores o assistente espiritual destas mulheres que há mais de um mês estão a fazer a sua preparação para esta caminhada penitencial, Pe Norberto Brum.

Esta quinta feira, voltam a reunir-se na igreja de Nossa Senhora de Fátima em Ponta Delgada para o Sacramento do Perdão e da Reconciliação e poucas devem faltar.

Este será o quinto encontro preparatório que consta sempre de um primeiro momento catequético, de reflexão e aprofundamento da palavra, seguindo-se uma preparação para a caminha e o ensaio de cânticos, sempre inspirados pelo lema desta 14ª romaria.

“A igreja tem estado sempre cheia e ninguém tem faltado. Julgo que este é o grande segredo desta romaria. Mais do que a caminhada é esta envolvência espiritual preparatória de participar e comungar a Alegria do Evangelho que explica a busca destas mulheres que participam de uma forma incrível nestas meditações”, refere o sacerdote que é o moderador da gestão in solidum das paróquias de Santa Clara e Nossa Senhora de Fátima.

Entre as quase 900 senhoras estão “romeiras” de todas as ouvidorias de São Miguel, que participam nas caminhadas organizadas pelas suas paróquias, mas depois voltam a sair com Santa Clara.

Este ano por serem em maior número, a organização, que conta com a colaboração do rancho de romeiros de Santa Clara, decidiu fazer uma missa campal em vez da tradicional Eucaristia dentro da igreja. O facto da romaria estar a “crescer em número de participações” já leva a organização a pensar noutro modelo.

“É difícil gerir um grupo tão grande pois vamos andar na estrada. Não queremos que ninguém se afaste e gostamos de acolher toda a gente. Se calhar vamos é ter de ver como podemos garantir que toda a gente participe com o máximo de segurança e conforto para que este encontro espiritual possa ser o mais completo possível” sublinha o Pe Norberto Brum.

A 14ª romaria sairá de Santa Clara percorrendo todas as igrejas da cidade; para nos Fenais da Luz, onde haverá uma meditação; almoçam nos Aflitos, e seguem para o Convento das Clarissas.

Igreja Açores

50 anos a percorrer as estradas de São Miguel que já não têm segredos

Ildeberto Piques Garcia e José Fernandes, mestres dos Ranchos de Romeiros da Matriz e da Conceição, na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, respetivamente, completam este ano a sua quinquagésima romaria quaresmal.

José Fernandes terminou a romaria este sábado. Depois de liderar uma caminhada de sete dias à frente do segundo maior grupo da ilha com 111 romeiros; Ildeberto Piques Garcia sairá no quarto domingo da Quaresma com um rancho de 50 irmãos, mais de 90% jovens.

Ambos reformados, entendem a romaria como um momento de penitência, que exige sacrifício, mas que ajuda a “carregar baterias”.

Com formações religiosas e origens familiares diferentes, traduzindo o verdadeiro espírito do Movimento de Romeiros de São Miguel, marcado pela heterogeneidade onde o que importa é todos serem irmãos na fé, estes dois romeiros têm em comum a idade com que foram mestres.

Aos 17 anos, ambos lideraram um grupo assumindo as funções de mestre, o principal responsável pelo rancho e que se encarrega de toda a organização logística. Talvez por isso, reconheçam que a romaria “desse ponto de vista já não tem segredos”. Mas é só no que toca à caminhada propriamente dita, porque o resto é sempre uma novidade, pois “nunca há uma romaria igual à outra”.

“Eu trago sempre coisas novas que aprendo com os irmãos durante a nossa caminhada física de penitência”, reconhece Ildeberto Piques Garcia que diz que a preparação de uma romaria “é essencial” para que ela corra bem.

“Ninguém pode falhar a preparação pois para além da direção espiritual temos a técnica da romaria, os cânticos e os avisos e por isso cada momento é importante e não deve ser falhado”, diz o mestre da Matriz da Ribeira Grande, que já foi, em tempos, o “obreiro” da formação do primeiro rancho de romeiros do Pico da pedra, também nesta ouvidoria da costa norte de São Miguel.

Sem enjeitar a existência de problemas,  “sobretudo de natureza física” o responsável pelos Romeiros da Matriz da Ribeira Grande, que é também membro do Grupo Coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel, sublinha a necessidade dos romeiros serem uma “referência exemplar” nas suas paróquias.

“De manhã, depois de fazermos a oração lemos uma passagem da bíblia e eu dirijo uma palavra a todos. O que lhes peço é que vão meditando nela ao longo dia e retirem aquilo que de essencial for para as suas vidas” pois a vida espiritual “deve estar sempre muito atualizada” uma vez que “só assim poderemos viver em graça, fazer crescer a fé e transmiti-la aos outros” conclui Ildeberto Piques Garcia.

“ Estou sempre a dizer aos meus irmãos que a romaria verdadeira começa depois da caminhada física em que nos purificámos” acrescenta o Mestre da Conceição, José Fernandes, “ e por isso peço-lhes que nunca deixem o terço porque as nossas orações só farão sentido se conseguirmos contagiar os que estão à nossa volta”.

Embora completando este ano 50 romarias, não conseguiram ultrapassar, ainda, Humberto Sousa, “no ativo”, que conta mais de 60 romarias,   e pertence ao rancho da Covoada, que saiu na madrugada deste terceiro sábado da Quaresma.

Igreja Açores

Ildeberto Piques Garcia e José Fernandes, mestres dos Ranchos de Romeiros da Matriz e da Conceição, na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, respetivamente, completam este ano a sua quinquagésima romaria quaresmal.

José Fernandes terminou a romaria este sábado. Depois de liderar uma caminhada de sete dias à frente do segundo maior grupo da ilha com 111 romeiros; Ildeberto Piques Garcia sairá no quarto domingo da Quaresma com um rancho de 50 irmãos, mais de 90% jovens.

Ambos reformados, entendem a romaria como um momento de penitência, que exige sacrifício, mas que ajuda a “carregar baterias”.

Com formações religiosas e origens familiares diferentes, traduzindo o verdadeiro espírito do Movimento de Romeiros de São Miguel, marcado pela heterogeneidade onde o que importa é todos serem irmãos na fé, estes dois romeiros têm em comum a idade com que foram mestres.

Aos 17 anos, ambos lideraram um grupo assumindo as funções de mestre, o principal responsável pelo rancho e que se encarrega de toda a organização logística. Talvez por isso, reconheçam que a romaria “desse ponto de vista já não tem segredos”. Mas é só no que toca à caminhada propriamente dita, porque o resto é sempre uma novidade, pois “nunca há uma romaria igual à outra”.

“Eu trago sempre coisas novas que aprendo com os irmãos durante a nossa caminhada física de penitência”, reconhece Ildeberto Piques Garcia que diz que a preparação de uma romaria “é essencial” para que ela corra bem.

“Ninguém pode falhar a preparação pois para além da direção espiritual temos a técnica da romaria, os cânticos e os avisos e por isso cada momento é importante e não deve ser falhado”, diz o mestre da Matriz da Ribeira Grande, que já foi, em tempos, o “obreiro” da formação do primeiro rancho de romeiros do Pico da pedra, também nesta ouvidoria da costa norte de São Miguel.

Sem enjeitar a existência de problemas,  “sobretudo de natureza física” o responsável pelos Romeiros da Matriz da Ribeira Grande, que é também membro do Grupo Coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel, sublinha a necessidade dos romeiros serem uma “referência exemplar” nas suas paróquias.

“De manhã, depois de fazermos a oração lemos uma passagem da bíblia e eu dirijo uma palavra a todos. O que lhes peço é que vão meditando nela ao longo dia e retirem aquilo que de essencial for para as suas vidas” pois a vida espiritual “deve estar sempre muito atualizada” uma vez que “só assim poderemos viver em graça, fazer crescer a fé e transmiti-la aos outros” conclui Ildeberto Piques Garcia.

“ Estou sempre a dizer aos meus irmãos que a romaria verdadeira começa depois da caminhada física em que nos purificámos” acrescenta o Mestre da Conceição, José Fernandes, “ e por isso peço-lhes que nunca deixem o terço porque as nossas orações só farão sentido se conseguirmos contagiar os que estão à nossa volta”.

Embora completando este ano 50 romarias, não conseguiram ultrapassar, ainda, Humberto Sousa, “no ativo”, que conta mais de 60 romarias,   e pertence ao rancho da Covoada, que saiu na madrugada deste terceiro sábado da Quaresma.

Igreja Açores

Empresa de audiovisual faz documentário sobre Romeiros de São Miguel

A empresa Pixbee, produtora audiovisual com sede no Porto, está a realizar um documentário sobre os Romeiros de São Miguel e vai acompanhar em permanência o Rancho de Romeiros da Ponta Garça, liderado por João Carlos Leite que é também o coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel, escreve o sitio Igreja Açores.

De acordo com uma nota enviada ao Sítio Igreja Açores pelo Vigário Geral, Cónego Hélder Fonseca Mendes, a produtora que fará um documentário para televisão, “vai seguir o rancho esta semana” e, por isso, solicitou-se o apoio dos sacerdotes responsáveis pelas paróquias por onde o rancho passará para “facilitarem as filmagens dentro das igrejas”.

O Rancho de Ponta Garça saíu esta madrugada tendo feito já uma primeira alteração ao seu percurso tradicional, subindo, no primeiro dia à Senhora da Paz, em Vila Franca do Campo, um pecurso violento logo para o primeiro dia.

De acordo com informações colhidas pelo Sítio Igreja Açores junto dos responsáveis pelo Rancho, os pedidos da produtora “foram respeitados sem que isso ponha em causa o itinerário e o espírito próprio da romaria”.

Igreja Açores

Romaria – os passos e as vozes

Tive, de novo, oportunidade de acompanhar de carro ou a pé, durante um dia, um rancho de Romeiros em S. Miguel.

E captar imagens e sons para um programa de televisão. Tudo me pareceu eterno e novo. Tenho acompanhado atentamente, e com admiração, a forma como uma devoção genuinamente popular e “laica” se tem adaptado aos novos tempos sem nada perder da sua genuinidade. Poderá algum romantismo fazer reparo à evolução que aconteceu. Mas a história só se enriqueceu com a forma mais consciente com que se processa, como se respeitam os aspetos de sacrifício que a peregrinação comporta, maior atenção e cuidado por cada romeiro, pela sua preparação espiritual, pela sua caminhada, pelo seu repouso, pelo sentido de fraternidade e entreajuda. E tudo associado a um tempo de interioridade que cada qual vive na medida em que entende, assume, e no grau de aproximação à fé em que se encontra. A Romaria tem esse segredo precioso que exprime num regulamento que ela própria cria. Aqui é vencido, de forma serena, o aparente conflito que se pode verificar noutras expressões religiosas populares entre o respeito pelo “folclore” – o genuinamente popular – e a expressão religiosa que se integra nas linhas fundamentais da espiritualidade católica, sem ser sujeito às rubricas que desenham as suas celebrações litúrgicas.

Mas anotei a participação perfeita e espontânea na celebração Eucarística, na devoção do Rosário, nas diferentes orações espontâneas ou preparadas pelo Mestre, na escolha dos cânticos, deixando sempre em primeiro plano o toque gregoriano e dolente dos Romeiros que sublinha passos, respirações, pausas, perfeitamente sincronizado nas sílabas e no tom penitencial que acompanha um rancho do nascer ao declinar do dia. Pode, sem forçar classificações, considerar-se uma liturgia popular que se enquadra nas linhas da liturgia oficial, com uma referência constante à Palavra e a expressão forte duma comunidade de vivência mais intensa – aquelas vozes incansavelmente barítonas e sonoras que com o seu ímpeto como que rompem os céus! Uma lição para as comunidades que caíram na rotina.

Não passa desapercebido o respeito profundo de todos os que se cruzam com a Romaria – ninguém pergunta a ninguém se é crente ou não – para com estes homens que deixaram as suas terras, casas, famílias, para integrar um mosteiro ambulante que entoa louvores e súplicas entre montanhas, planícies, atalhos ou estradas de trânsito normal que já se foi habituando a conviver com grupos de 50 ou 70 pessoas. O Mestre e Procuradores são guias para os locais desérticos ou desconhecidos ou para os meios urbanos ou estradas regionais. O presente acaba por conviver com o passado.

Não estou a referir mais que evidências que se enquadram num mapa e calendários das Romarias Quaresmais cuidadosamente programado, divulgado na imprensa, nos variados sítios da Net, que trazem um manancial de informação e integração duma iniciativa pura na tradição, com um programa rigoroso para cada dia, com partidas e dormidas acertadas, celebrações preparadas, entendimento perfeito entre diversos Ranchos que enchem de sons a Ilha de São Miguel , mas mais que isso como que tomam a ilha sobre os seus ombros para a apresentar a Deus, referindo-lhe todos os problemas, angústias e alegrias. Notei isso particularmente nesta Romaria essencialmente composta por jovens: com uma alegria serena e o passo seguro como quem sabe para onde vai e não tem medo de rasgar o futuro. No caso, com Cristo, com Maria, com o povo, com os pesos que por vezes parecem esmagar o mundo. Uma coisa senti todo tempo: a Romaria é um ato de fé. Todos sabem que sem fé não fariam sentido os passos e vozes que atravessam a nossa terra.

 

Nota: Agradeço ao Mestre que me autorizou este acompanhamento que, espero, não tenha perturbado a caminhada espiritual dos 59 Romeiros do Cabouco, numa peregrinação inesquecível entre a Povoação e Ponta Garça.

Pe. António Rego/ In: Igreja Açores