“Irmãos”, de Pedro Magano, vence o Grande Prémio do festival Caminhos do Cinema

O documentário “Irmãos”, do realizador Pedro Magano, venceu o Grande Prémio do festival Caminhos do Cinema Português, que termina hoje, em Coimbra, com a entrega das distinções, informou a organização.

O documentário foca-se nas romarias quaresmais de São Miguel, Açores, em que dezenas de homens “caminham, alinhados pelas estradas e pelos trilhos” da ilha, envergando xailes ao ombro, lenços ao pescoço, uma cevadeira às costas, um bordão e um terço na mão, explana a produtora do filme, Pixbee, no seu `site`.

Também na edição de 2014 foi um documentário a arrecadar o Grande Prémio do festival, que na altura distinguiu “Para-me de repente o pensamento”, do realizador Jorge Pelicano.

O prémio de melhor longa-metragem coube ao filme “Yvone Kane”, de Margarida Cardoso, “Gipsofilia”, de Margarida Leitão, recebeu o prémio de melhor documentário, e “A última árvore analógica”, de Jorge Pelicano, arrecadou o de melhor curta-metragem, com uma menção honrosa para “Provas, Exorcismos”, de Susana Nobre.

Miguel Gomes, com o filme “As Mil e Uma Noites”, recebeu o prémio de melhor realizador, a que junta o de melhor argumento original e adaptado, distinção que recebe em conjunto com Mariana Ricardo e Telmo Churro.

O prémio revelação do júri do Caminhos foi atribuído ao jovem ator David Mourão, pela sua participação no filme de João Salaviza, “Montanha”.

“Que dia é hoje”, do coletivo Fotograma 24, recebeu o prémio para melhor filme de animação, secção competitiva em que foi ainda atribuída uma menção honrosa para “Vigil”, de Rita Cruchinho Neves.

O prémio de imprensa ao melhor filme foi atribuído ao documentário “João Benárd da Costa: Outros amarão as coisas que eu amei”, de Manuel Mozos.

O ator Filipe Duarte foi considerado o melhor ator, em “Cinzento e Negro”, de Luís Filipe Rocha, Beatriz Batarda, melhor atriz, em “Yvone Kane”, filme que ainda recebeu a distinção de melhor direção artística e melhor fotografia.

Na seleção Ensaios, destinada a filmes produzidos em contexto académico, foi premiado Vicente Niro, com “Lingo”, na secção competitiva nacional, e os iranianos Majid Sheyda e Fariborz Ahanin venceram o prémio de melhor Ensaio Internacional, com “When Sanam Cried”.

A cerimónia de encerramento decorre hoje, às 21:30, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), onde serão exibidos os filmes “Yvone Kane” e “A última árvore analógica”.

O festival Caminhos começou a 27 de novembro, tendo sido exibidos mais de 150 filmes em competição, no TAGV e no Conservatório de Música de Coimbra.

In Lusa

Documentário sobre as Romarias de São Miguel em estreia no Festival Caminhos do Cinema Português


Uma ilha prostrada à fé destes homens. Um ritual único de esperança e de partilha. Uma tradição com mais de 500 anos.

O documentário “Irmãos” conta a história de centenas de homens que caminham, alinhados, pelas estradas e pelos trilhos da ilha de São Miguel, um lugar sagrado onde a natureza e a fé se conjugam. Durante uma semana, rezam por eles, pelos seus e por quem encontram pelo caminho onde vão colecionando as suas preces. Levam mais de 300 km nos pés e outros tantos de cansaço, de lágrimas, de alegria, de esperança. Um ritual único de fé, de partilha, de encontro com Deus, que acontece há mais de 500 anos.

Rodado nos Açores, em março deste ano, o filme é realizado por Pedro Magano, tem produção da Pixbee e conta com o apoio da Secretaria Regional da Educação e Cultura dos Açores e da Associação de Municípios da Ilha de São Miguel. Ao longo de 70 minutos, o filme dá-nos a conhecer a grandiosidade da natureza da ilha ao longo da viagem destes irmãos. São personagens cativantes, de diferentes gerações, incluindo crianças de tenra idade, como é o caso do Patrício, com apenas 12 anos, que carrega a cruz e conduz os 53 homens ao longo desta viagem. Mas nem só de fé e sacrifício vive este documentário. Não faltam momentos descontraídos e envolventes de partilha e amizade.

Esta tradição secular, que é um dos momentos mais importantes na vida dos açorianos, é ainda desconhecida um pouco por todo o mundo, incluindo nós portugueses, e será dada a conhecer através deste filme que começa agora o seu circuito de exibição em festivais de cinema.

“Irmãos” foi selecionado para a Seleção Caminhos do 21º Festival Caminhos do Cinema Português e estreia já este mês, no dia 30 de novembro, às 17h30, no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra. A sessão contará com a presença do realizador Pedro Magano, de toda a equipa de produção do filme e de alguns protagonistas. “Irmãos” foi um dos 14 documentários selecionados para a edição deste ano do festival, que decorre de 27 de novembro e 5 de dezembro, em Coimbra.

Em breve, o novo documentário da Pixbee vai ser exibido nos Açores, onde a sua estreia é aguardada com muita expectativa pelos micaelenses.

PIXBEE

200 crianças do Colégio de São Francisco Xavier participam em romaria quaresmal

Cerca de 200 alunos do Colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada, participaram esta manhã na 14ª romaria quaresmal, percorrendo as ruas de Ponta Delgada entre o Colégio e  a Igreja de São José, parando em três igrejas de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Carmo e Senhor Santo Cristo dos Milagres.

Os romeiros por um dia,  frequentam as salas dos cinco anos e dos segundo e quarto anos do primeiro ciclo.

Os alunos saíram do Colégio pelas 9h30, acompanhados de cinco Romeiros do Rancho  de São Roque, trajando a indumentária própria do romeiro: o lenço, o xaile, o bordão, a saca e o terço. Atrás seguiam as meninas que levavam um lanche para oferecer aos “irmãos romeiros”`a chegada a São José e depois da celebração da palavra, com o Pe Norberto Brum.

“Com esta iniciativa pretendemos perpetuar a tradição das romarias quaresmais de São Miguel que são um legado espiritual e cultural desta terra”, sublinha a diretora do Colégio, Irmã Domingas Lisboa, acentuando “os valores, virtudes e vivências que importa preservar, no essencial, nas suas características originais, pois constituem um legado inestimável de Fé e Esperança dos nossos antepassados”.

A romaria é o culminar de semanas de preparação, onde toda a comunidade educativa e, principalmente, os alunos que sairam na romaria, se prepararam espiritualmente. No entanto, a “romaria é apenas uma pequena caminhada que não se esgota num dia nem no percurso”, refere a responsável ressalvando as “catequeses” e orientações transmitidas ao longo da preparação quer pelas educadoras, professoras e Irmãs, quer pelo Pe Norberto Brum, que “alertou os alunos para a importância de cada um ser romeiro durante todo o ano e não somente durante esta época quaresmal”, lembrando que “o verdadeiro romeiro, todos os dias, tenta ser bom, reza e trata o outro como um “irmão.”

A resta manhã animou os cânticos dentro da Igreja de São José,  lembra, ainda, o facto de liturgicamente se estar a viver a Quaresma- “tempo de conversão, penitência e meditação” que convidam “à renuncia, à doação e à oração”.

“No Colégio procuramos que as crianças se formem tendo em conta os valores cristãos e por isso não poderíamos descurar esta parte espiritual que contribui para a formação integral dos nossos jovens”, conclui .

Igreja Açores

Entrevista Pe. Nuno Maiato in Atlantico Expresso

Enquanto diretor espiritual do Grupo Coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel, quais são os desafios que considera que se colocam hoje espiritualmente aos romeiros?
Os de sempre. Espiritualmente os desafios são intemporais. O romeiro procura reencontrar-se consigo, com Deus e com os outros e, a partir deste reencontro, recuperar o sentido da sua existência. No fundo, cada irmão pretende responder, de acordo com o agora da sua existência, às questões verdadeiramente importantes da vida.

Ser romeiro hoje significa o quê, face à sua própria experiência e aos testemunhos que tem recolhido?
Uma necessidade e um desafio. Ao contrário do que algumas pessoas pensam e chegam a exigir dos romeiros, estes homens não são super heróis, nem santos, mas pessoas com consciência da sua condição de pecadores. E a partir deste conhecimento que tem deles próprios nasce a necessidade de Deus, isto é, n’Ele encontram a força e a paz para superarem as fragilidades e obstáculos que a vida os coloca. Consequentemente existe a vontade de serem melhores pessoas e cristãos o que se traduz num desafio constante nas suas vidas.

Há diferenças entre os romeiros de hoje e os de ontem? E dos de outras ilhas e dos que vêm de fora de São Miguel, nomeadamente da diáspora?
Substancialmente não, mas é obvio que a nível circunstancial existem diferenças e sempre vão existir. A história da humanidade e da igreja ensina-nos que os Homens de ontem e de hoje procuram o mesmo, a felicidade. No entanto, se esta procura igualiza-nos, diferenciamo-nos pelas circunstâncias do momento e local onde vivemos. Parafraseando o Papa João XXIII «é muito mais o que nos une do que o que nos separa».

Hoje quais os motivos que levam a que um homem comece a ser romeiro ou se mantenha nesta caminhada de fé, de ano para ano?
A motivação primeira pode ser fruto da curiosidade, de uma promessa ou de muitos outros motivos que só Deus e cada irmão romeiro conhecem. Depois da primeira romaria, entendo que o denominador mais comum é uma forte vivência da fraternidade que se faz durante uma romaria, isto é, pelo menos durante aquela semana sentimo-nos todos irmãos, não há pobre nem rico, senhor doutor ou carpinteiro. Se isso ainda não fosse suficientemente motivador, acontece uma evangélica e constante permuta de dons e de bens.
Estou cada vez mais convencido que uma romaria é como um workshop da vivência plena do que é ser igreja na sua tríplice dimensão: sacerdotal, profética e real ou de serviço. E esta vivência enriquece e propõe a cada romeiro um modo diferente de estar e fazer a romaria da vida. A romaria aperfeiçoa-nos, mas não nos torna perfeitos, por isso, estes homens precisam de continuar romeiros.

5. Este ano houve mais ou menos homens a procurar aderir às romarias?
Este ano somos cerca de 2400 irmãos, num total de 55 ranchos, o que significa que a adesão às romarias está de acordo com o que tem sido habitual nos últimos anos.

As Romarias Quaresmais este ano estão já a decorrer entre 21 de fevereiro e 2 de abril sob o lema “A Alegria do Evangelho proposta na Exortação Apostólica do Papa Francisco, a partir das várias dimensões da vida”. Pode falar-nos um pouco desta exortação do Papa e da importância da caminhada tendo ao peito, de cada romeiro, uma fita benta pelo mesmo, em sinal de união?
Numa frase, a exortação pode-se resumir na urgência e dever que todos os cristãos devem sentir em partilharem e testemunharem, com a autenticidade que o evangelho nos desafia, a verdadeira alegria de sermos cristãos, que é Jesus Cristo. O papa diz-nos, entre muitas coisas, (que os anteriores Papas já disseram, mas numa linguagem mais próxima das pessoas e por isso mais motivadora) que prefere «uma igreja acidentada» porque é ousada, porque arrisca na forma como comunica esta alegria, do que «uma igreja comodamente fechada» em estruturas e vivências caducas e com cada vez menos sentido. A esta igreja, do «primeiro ao último batizado», recorda que a atenção aos pobres não é uma opção, mas a primeira e essencial obrigação na vida de todos os cristãos.
Quanto às fitas, estas pretendem, de facto, ser um sinal de união com o Papa e com a Igreja. Em dezembro passado, dois elementos do Grupo Coordenado foram entregar ao Papa o ramalhete espiritual das romarias quaresmais de 2014. Fizeram-no em nome de todos romeiros e por isso, naquele momento pediram a bênção do Santo Padre para todos, bênção esta que simbolicamente se materializa nestas fitas sobre as quais o Papa nos abençoou. Igualmente simbólico, é o gesto do romeiro a colocar junto ao peito, recorda  o desejo que Francisco apresentou, na sua mensagem para a quaresma deste ano, a toda a Igreja para pedirmos a Deus com ele: «Senhor, fazei o nosso coração semelhante ao vosso».

In Atlantico Expresso (02/03/2015)