Meditações para as Romarias Quaresmais de 2017

No Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, a Igreja desafia-nos a olharmos de novo para Maria e com Ela reavivarmos a nossa fé e missão.

Assim sendo, todos os cristãos devem redescobrir «o papel da Virgem Santíssima no mistério do Cristo e da Igreja, e os deveres dos homens resgatados, para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens.» (cf. LG 54)

Para que esta redescoberta seja fiel à doutrina da Igreja, proponho como fio condutor das meditações para a Romaria Quaresmal deste ano, o capítulo oitavo da constituição dogmática «Lumen Guentium» ou a «Luz dos Povos», do Concílio Vaticano II, intitulado: A Bem-Aventura Virgem Maria Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja.

  1. A MÃE VIRTUOSA DE CRISTO, NOSSO ÚNICO MEDIADOR

O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: «não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos. Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. (cf. LG 60)

Na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria, os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos. (…) Por sua parte, a Igreja, procurando a glória de Cristo, torna-se mais semelhante àquela que é seu tipo e sublime figura, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, e buscando e fazendo em tudo a vontade divina. (cf. LG 65)

 

Meditação

– Reconheço Jesus como Deus e Homem?

– Jesus está presente nas minhas escolhas e decisões de cada dia?

– Com Maria, procuro vencer o pecado e crescer na santidade?

  1. A MÃE DO REDENTOR NO ANTIGO TESTAMENTO

Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente, feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel. É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus. (cf. LG 55)

 

Meditação

– Deixo Jesus ser o autor da minha história de vida?

– Como combato o mal? Como promovo o bem?

– Como Maria, procuro ser pobre e humilde de Coração?

  1. MARIA NA ANUNCIAÇÃO

Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção.

Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens. (…) «O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé»; e, por comparação com Eva, chamam Maria a «mãe dos vivos» e afirmam muitas vezes: «a morte veio por Eva, a vida veio por Maria». (cf. LG 56)

 

Meditação

– Como reajo aos desígnios que Deus tem para mim? Ignoro ou aceito?

– Sou obediente a quem devo obediência?

– Como Maria, sinto-me livre?

  1. MARIA NA INFÂNCIA DE JESUS

A associação da mãe com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a conceição virginal de Cristo até à Sua morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitar Isabel, foi por ela chamada bem-aventurada, por causa da fé com que acreditara na salvação prometida, e o precursor exultou no seio de sua mãe; depois, no nascimento, quando a Mãe de Deus, cheia de alegria, apresentou aos pastores e aos magos o seu Filho primogénito, o qual não só não lesou a sua integridade, mas antes a consagrou. E quando O apresentou no templo ao Senhor, com a oferta dos pobres, ouviu Simeão profetizar que o Filho viria a ser sinal de contradição e que uma espada trespassaria o coração da mãe, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos. Ao Menino Jesus, perdido e buscado com aflição, encontraram-n’O os pais no templo, ocupado nas coisas de Seu Pai; e não compreenderam o que lhes disse. Mas sua mãe conservava todas estas coisas no coração e nelas meditava. (cf. LG 57)

 

Meditação

– Qual a minha relação com Jesus Cristo?

– Vivo a alegria de ser amado por Deus, de ser cristão?

– Como Maria, levo esta alegria aos outros?

  1. MARIA NA VIDA PÚBLICA

Na vida pública de Jesus, Sua mãe aparece duma maneira bem marcada logo no princípio, quando, nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seus milagres. Durante a pregação de Seu Filho, acolheu as palavras com que Ele, pondo o reino acima de todas as relações de parentesco, proclamou bem-aventurados todos os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática; coisa que ela fazia fielmente. (cf. LG 58)

 

Meditação

– Testemunho a fé em Cristo em qualquer tempo e lugar? Porquê?

– Tenho compaixão dos que estão doentes, tristes ou vivem sozinhos?

– Como Maria, procuro acolher e viver a Palavra de Deus? Como? 

  1. MARIA NA PAIXÃO DE CRISTO

A Virgem avançou pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus, padecendo acerbamente com o seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d’Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho. (cf. LG 58)

 

Meditação

– Quem me ajuda a carregar a cruz?

– O que faço para aliviar o sofrimento do meu próximo?

– Como Maria, sou fiel a Deus, à minha família e amigos?

  1. MARIA DEPOIS DA ASCENSÃO

Antes do dia de Pentecostes, os Apóstolos «perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, Maria Mãe de Jesus e Seus irmãos», implorando Maria, com as suas orações, o dom daquele Espírito, que já sobre si descera na anunciação. Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte. (cf. LG 59)

 

Meditação

 – Que lugar tem a oração na minha vida?

– Que dons quero receber do Espirito Santo de Deus?

– Com Maria, vou elevar os meus pensamentos, palavras e ações a Deus? 

CONCLUSÃO

 

 A maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção (…) Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo. (cf.LG 62)

 

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«Toda a Pessoa é um Dom de Deus»

Mensagem de Quaresma do Bispo de Angra e Ilhas dos Açores

«Toda a Pessoa é um Dom de Deus»

 

Estamos a iniciar um tempo importantíssimo para os cristãos e para toda a sociedade.

Ao longo de um itinerário de quarenta dias, à imagem da presença de Jesus de Nazaré no deserto e dos quarenta anos de permanência do Povo Hebreu no deserto, através da ascese, da oração, da renuncia e da partilha, somos convidados a aproximarmo-nos mais de Deus e dos irmãos sobretudo dos que mais sofrem.

Os cristãos colocam o seu olhar na Páscoa de Jesus Cristo e dispõem-se a integrar na sua vida a mesma dinâmica de deixar de ser a pessoa presa ao seu egoísmo, individualismo, fechada em si e na sua história, para alcançar a vida na sua plenitude, o sentido da sua existência que só poderá ser digna do ser humano quando aberta para Deus e para os irmãos.

Mas este tempo é igualmente importante para toda a sociedade que anda em busca de soluções para os problemas do mundo e de cada pessoa. Torna-se necessário orientar esta procura e direccionar os intervenientes para que tal aconteça.

É bem apropriada a palavra de S. Paulo que nos exorta dizendo «em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus» (2Cor. 5,20). Numa sociedade com tantas crispações e numa cultura que progressivamente se vem afastando de Deus e se manifesta com inúmeras fracturas, torna-se necessária a mensagem da reconciliação com Deus e com os irmãos.

A presença de Jesus de Nazaré na história dos homens torna-se um facto universal. A Sua vida, as Suas palavras e os Seus gestos querem abarcar todos os homens em qualquer situação em que se encontrem. Urge que a humanidade de hoje se abra ao Mistério de Jesus Cristo e descubra a sua relação com Deus e com os seus irmãos.

É muito oportuna a palavra do Papa Francisco quando diz «cada vida que vem ao nosso encontro é um dom e merece acolhimento, respeito, amor». E, acrescenta sublinhando que «a Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil» (Mensagem para a quaresma 2017).

Saibamos entrar neste tempo quaresmal interpelados pela Palavra de Deus que nos ajudará a caminhar na libertação pessoal para nos abrirmos à vida de Deus que se quer manifestar em nós.

Apelamos aos sacerdotes que dediquem o tempo necessário para atender os que necessitam de dialogar e receber uma palavra de conforto e de orientação e para, em nome de Jesus Cristo, oferecerem a Graça do Sacramento da Reconciliação aos que penitentemente desejam recuperar a Vida em Cristo.

Exortamos as comunidades cristãs a desenvolverem o itinerário de iniciação cristã que integra os diversos símbolos e a dinâmica de cada uma das semanas da quaresma.

Mas toda a caminhada em direcção a Deus obriga necessariamente a abrir-nos aos irmãos e descobrirmo-nos solidários uns para com os outros. A sorte do meu irmão pertence-me também a mim.

Toda a pessoa vitima da pobreza, da marginalidade e da exclusão, do desemprego, os reclusos, os famintos, os doentes e os idosos sem protecção, estão a caminhar comigo e a estender-me a mão para que lhes alivie a dor e o sofrimento.

Na nossa diocese de Angra e Ilhas dos Açores o fruto da nossa renuncia, ascese e penitência destina-se ao Fundo Diocesano para as Crianças em extrema pobreza.

Colocamo-nos sob o olhar materno de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Açores, que acompanhou o Seu Filho no sofrimento e se alegrou com a Sua Ressurreição, implorando as Suas bênçãos para a nossa caminhada quaresmal para alcançarmos a Vida na sua plenitude.

 

+João Lavrador, Bispo de Angra e Ilhas dos Açores