Bispo de Angra pede aos Romeiros que aproveitem a romaria para fazer uma “verdadeira mudança de vida”

Retiro anual dos Romeiros de São Miguel juntou todos os responsáveis dos 54 ranchos da ilha

O Bispo de Angra elegeu as romarias como “o tempo favorável” para uma “conversão, isto é, mudança de vida” e apelou aos Romeiros de São Miguel que aproveitem a peregrinação da Quaresma para isso.

Na homilia da Eucaristia do retiro anual dos Romeiros, que se realizou este domingo, no auditório da Escola Secundária da Ribeira Grande, D. António de Sousa Braga, partindo das leituras, pediu um compromisso aos Romeiros.

“A Romaria é uma peregrinação de penitência e de oração, que nos deve levar à conversão, isto é, à mudança de vida” e “a Quaresma é um momento especial de graça: o tempo por excelência da conversão, da mudança de vida”, porque implica “retirar-se da vida ordinária do dia-a-dia”.

O prelado diocesano lembrou o significado da palavra peregrinar – andar pelos campos- e isso significa uma momento de “deserto em que nos retiramos para nos encontrarmos com Deus, connosco próprios e com os irmãos”.

Portanto, conclui D. António “este é o tempo favorável”. Ainda mais, acrescenta o responsável pela igreja católica açoriana, as Romarias Quaresmais de São Miguel “implicam uma visita às Casas de Nossa Senhora, sem a qual não há romaria”.

O Bispo de Angra aproveitou ainda este “espaço” para lembrar o sentido de grupo inerente à romaria, “que se fazem em grupo, ajudando-nos e apoiando-nos uns aos outros, como irmãos”.

Depois, saudou o grupo coordenador por ter escolhido “oportunamente” o tema do retiro A Alegria de Ser Cristão, no Ano da Vida Consagrada, permitindo a partilha do testemunho de religiosos, sacerdotes e leigos.

“É muito oportuno que, neste Ano da Vida Consagrada, haja, neste Retiro, o testemunho de um, religioso e de algumas religiosas. Teria sido interessante se esse testemunho, para além da Vida Religiosa, se tivesse estendido também a outras formas da Vida Consagrada, que incluem vários estados de vida (casados, solteiros, celibatários, sacerdotes, diáconos). Aqui, em S. Miguel, temos, por exemplo: As Auxiliares do Apostolado, a Comunidade Obra de Maria e as Comunidades Neo-Catecumenais”, sublinhou D. António de Sousa Braga.

O Bispo de Angra pediu, também, aos romeiros que fizessem uma oração pela unidade dos cristãos neste último dia do Oitavário pela Unidade dos Cristãos.

Durante o encontro, o prelado diocesano sublinhou a importância destes retiros como forma de preparação para as romarias quaresmais, que têm “um profundo significado” e constituem “um momento alto de expressão da fé, da igreja e das comunidades”, sobretudo porque elas revelam a importância de “estarmos abertos ao projeto de Jesus na terra”.

D. António de Sousa Braga destacou, ainda, a “especial comunhão com o Papa por quem continuaremos a rezar”, lembrando que todos devem ser “discípulos missionários” e, na linha do que o Papa Francisco tem defendido, devem procurar ir “ao encontro dos irmãos” mesmo que isso signifique “andar de malas na mão, entre aeroportos, como eu faço aqui na diocese para conseguir estar permanentemente em contacto com as nove ilhas”.

Questionado sobre o facto destas romarias estarem a estender-se a outras ilhas, nomeadamente Terceira, Graciosa e também à Diáspora, o Bispo de Angra, diz que “qualquer ilha tem as suas romarias e peregrinações” mas as de São Miguel “têm especificidades próprias com um regulamento que importa preservar”.

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Romeiros desafiados a evangelizar outros destinos de peregrinação

Professor universitário diz que os romeiros têm de ensinar os europeus a rezar

Os Romeiros têm o “enorme” desafio de ensinar “a forma bonita como rezam” a outros cidadãos europeus, disse este domingo Tomaz Dentinho, professor universitário, que foi um dos oradores do retiro organizado pelo Movimento dos Romeiros de São Miguel que se realizou na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel.

“A forma de rezar dos Romeiros é tão bonita que deve ser partilhada por esse mundo fora. Os Romeiros de São Miguel são mais do que a ilha e têm muito para dar à Europa e ao mundo”, disse o professor universitário lembrando que atualmente os caminhos que se fazem como Fátima ou Santiago ”estão desvirtuados ou pouco evangelizados”.

“Os caminhos de São Miguel são bonitos mas é preciso evangelizar outros e os romeiros podem e devem fazê-lo. A partilha é também missão”, disse ainda Tomaz Dentinho, também ele romeiro do Rancho de Nossa Senhora da Conceição na ilha Terceira.

“Esta ilha de São Miguel já deu cardeais e patriarcas à igreja agora chegou a vez dos leigos de São Miguel – os Romeiros- poderem evangelizar o mundo através das suas peregrinações”, concluiu.

Para Tomaz Dentinho estas romarias têm especificidades próprias “que mesmo que se façam noutras ilhas nunca será a mesma coisa”.

Sobre a Alegria de Ser Cristão, Tomaz Dentinho como leigo comprometido, casado e com filhos, desafiou todos os que estão nas suas condições para serem missionários em permanência ou seja na sua vida familiar, no trabalho ou nas relações sociais.

“A romaria é uma oportunidade para nos reencontramos connosco e com Nosso Senhor. Foi através da romaria que me descobri como pecador e como posso melhorar, ou seja, como posso ser mais santo e estou certo que na romaria sou mais santo que pecador, então também o posso ser na minha vida do dia a dia. Tenho o dever de o ser”.

Outro dos oradores neste retiro foi o sacerdote Luís Leal, padre na Ameixoeira, em Lisboa, e contramestre do Rancho de São José. Fez uma reflexão sobre a Alegria da Sagrada Escritura, retomando alguns dos episódios em que se experiencia a Alegria do Encontro, do Anúncio, da Redenção ou da Esperança.

Para o sacerdote a “Alegria que nasce do Evangelho só é vivida se a pessoa for livre interiormente e essa alegria leva-nos à ação e à contemplação e acontece nos leigos e nos religiosos”, conclui pedindo a todos os romeiros para “serem alegres no Evangelho” e “contagiar” todos os que estão à volta.

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Religiosas emocionam responsáveis pelas romarias de São Miguel

Duas irmãs de São José de Cluny e Clarissas testemunharam a alegria de serem religiosas consagradas

As religiosas Tânia Encarnação e Maria do Rosário, das Irmãs de  São José de Cluny e Clarissas, respetivamente, deram este domingo um testemunho vivo de “alegria” sobre o que é a vida religiosa consagrada, no retiro de Romeiros de São Miguel, que se realizou na Ribeira Grande.

Ambas falaram do “primeiro chamamento” , de como se sentiram “tocadas por Jesus” e da forma “amorosa como responderam a essa vocação”, embora qualquer uma tivesse admitido que essa não era a primeira escolha.

“Por causa da minha família e porque queria ganhar algum dinheiro pensava ser professora ou enfermeira” disse a Irmã Rosário, Clarissa nas Calhetas em Rabo de Peixe, que recusa a afirmação de que uma freira de clausura esteja encerrada entre quatro paredes.

“Sou muito livre, se calhar até mais livre que muitos, não saio é do convento e não tenho a felicidade que vocês romeiros têm de percorrer todos os sacrários da ilha de São Miguel, mas eu também gosto de adorar Jesus”, disse no seu pouco mais de metro e meio mas com um sorriso do tamanho do mundo. Aliás, sorri porque Jesus não gosta de gente “chorona”.

“O Senhor Bispo há de fazer o favor de dar licença que se construam imagens de Jesus alegre. Ele quer que nós rezemos e possamos agradecer mas não quer lágrimas, porque Jesus é amor e o amor é felicidade”, conclui a religiosa que há 37 anos vive num convento de clausura, para onde entrou aos 18 anos depois de um choro ininterrupto da mãe e da confusão do pai “que só coçava na cabeça”. E, nem mesmo, as tentativas de dissuasão do Dr. Sampaio, médico da Ribeira Grande que teve de passar um atestado de robustez física para a congregação,” me afastaram do meu caminho” que era “procurar em primeiro lugar o reino de Deus e o resto seria dado por acréscimo”.

Mais nova, mas igualmente determinada, Tânia da Encarnação, madeirense e sempre apoiada pela família, optou pela vida consagrada depois de várias “experiências de encontro e de entrega que trazia de casa”, mesmo quando “o meu irmão me disse: e agora também vais usar aquelas roupas? Se passar por ti na rua, atravessarei logo o passeio”.

“Deus dá as suas luzes gota a gota” e procura-nos “quando não estamos bem”; é , sobretudo, “nessa altura que ele nos bate à porta porque gosta de nós pequenos, simples e frágeis”.

Num testemunho muito vivo e sentido, a Irmã de São José de Cluny, responsável pelo berçário e pela creche do colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada, que completa no dia 17 de fevereiro um ano, deixou a  sua definição do que é ser religiosa consagrada: “è aceitar-me com todos os meus defeitos e limitações, crente de que Deus estará sempre pronto para me dar um abraço e eu estarei sempre disponível para O servir”, conclui a  religiosa que está há pouco mais de dois anos em Ponta Delgada.

As religiosas participaram no retiro de romeiros testemunhando a Alegria da vida religiosa consagrada, uma de ação e outra de contemplação.

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ENTREVISTA AO IRMÃO TOMAZ DENTINHO

Tomaz Dentinho é professor Universitário, no departamento de Ciências Agrárias na Universidade dos Açores.

Vive há 30 anos na ilha Terceira. É uma das vozes mais escutadas na análise económica da região. Católico comprometido em diferentes movimentos da igreja aceitou responder às questões do Sítio Igreja Açores, justamente no fim de semana em que se desloca a Ponta Delgada para falar aos Romeiros de São Miguel sobre a Alegria de Ser Cristão.

Na bagagem traz-lhes um desafio quase metafórico: “irem a pé de Lisboa à Europa, por Fátima, Santiago e pelos Caminhos de Santiago em sentido contrário, como se fosse uma cruzada da periferia para a Europa, ensinando-a a rezar e expandindo o que se faz nos Açores à Europa e todo o mundo”. Sobre o atual momento, lembra que já vai na terceira crise que espera que seja “a última a ser agravada pela demagogia política a que nós todos fomos sendo vulneráveis”. Sublinha que “a miséria desresponsabiliza as pessoas de viverem com dignidade e de procurarem melhorar em termos materiais e espirituais” e deixa uma mensagem clara à igreja que tem “que actualizar a Doutrina Social aos desafios da globalização e do século XXI” e ser sobretudo mais ágil na denúncia “de má gestão pública”.

Quanto aos ventos de mudança que sopram na igreja, impulsionados por Francisco –“uma esperança segura”- Tomaz Dentinho fala, ainda, do próximo sínodo e da importância que é os católicos “não criarem um estereótipo de família supostamente cristã excluindo as que provêm de outras culturas e que são também promotoras do amor entre as pessoas, a educação dos filhos e a estruturação da sociedade” . ler +

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